O título pode ser pomposo, mas expressa a intenção de trazer para o campo da sociologia um problema antropológico ou mesmo psicanalítico, já que envolve a forma como um indivíduo olha para o outro e o determina.
Há tempo observo o quanto a subjetividade do olhar sobre o outro termina por influenciar na organização e na vida do grupo. Um conjunto de olhares e condutas se tornam o olhar e a conduta de um grupo social, de uma comunidade ou até mesmo de uma sociedade.
A forma autoritária como um indivíduo busca se impor sobre outro indivíduo não se manifesta somente como preconceito, mas pode ocorrer como mecanismo de destruição da história de vida do outro.
Trata-se de uma prática muito comum um indivíduo pegar uma única ação do outro para usar como instrumento de destruição de tudo que ele, o outro, construiu durante sua vida, seja na política, na profissão, na família ou em qualquer estrato.
Aquele único ato de equívoco ou de deslize não intencional pode servir de objeto destrutivo da sua história pelo outro, que o faz por maldade ou por uma ação estruturada de maucaratismo.
Um ato equivocado não pode destruir uma história de vida, de luta, de resiliência ou de profissionalismo. O que determina o caráter e a conduta de um ser humano é o conjunto da sua obra, ou seja, o conjunto das suas ações enquanto agente social e político.
Não estou me referindo a crime, que é um campo a ser cuidado pela justiça, mas ao equívoco do olhar e da prática destrutivos, que se manifesta na intenção de invalidar tudo que o outro construiu como boa referência na sua vida.
Essa ação subjetiva de destruição do outro é também destruidora da objetividade, já que não analisa o conjunto e a história das coisas que o indivíduo construiu. É uma posição antidialética e de puro exercício da ignorância ou da falta de caráter.
É preciso fazer da nossa subjetividade um objeto de construção objetiva, de honestidade intelectual, existencial e de respeito ao ser humano.
*O autor é sociólogo