Águas de Manaus lucra mais de R$ 1,5 bi e entrega só 22% de esgoto
Prefeitura de Manaus estuda rompimento da concessão do serviço público
Ferreira Gabriel
Publicado em: 16/08/2021 às 19:36 | Atualizado em: 16/08/2021 às 19:36
A Prefeitura de Manaus mandou a Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Município (Ageman) estudar o fim do contrato de concessão do serviço de água e esgoto com a francesa Águas de Manaus.
O prefeito David Almeida (Avante) quer avaliar a viabilidade de declarar caducidade do contrato de concessão à Águas de Manaus, do grupo Aegea Saneamento.
Almeida se ampara na Lei 14.026, do marco do saneamento básico do Brasil. Por ela, a concessionária de serviço público em Manaus não cumpre os índices contratados no abastecimento de água e no esgotamento sanitário.
Conforme a lei, a Águas de Manaus deveria suprir 99% da população de água potável e 90% no tratamento e coleta de esgoto, até 2033.
Contudo, na capital do Amazonas, a empresa presta só 22% no serviço de coleta, tratamento e destinação final do esgoto. Portanto, disponível em pouco mais de 60 localidades, incluindo conjuntos residenciais e comunidades.
Das 187 áreas oficiais de Manaus, entre bairros e comunidades, só 15 têm serviço de esgoto.
“Para nós, da Prefeitura de Manaus, está muito claro que a concessionária terá dificuldades para alcançar essa meta [prevista em lei] e isso tem nos preocupado. Há um déficit histórico de investimentos em esgotamento sanitário”, afirmou o prefeito.
Como resulta da incompetência da Águas de Manaus de resolver essa deficiência, a capital foi apontada como o pior exemplo de privatização do saneamento.
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Mas, lucro só aumenta
De acordo com o balanço patrimonial da empresa, nos últimos dois anos a receita bruta de arrecadação foi de mais de R$ 1,55 bilhão.
Com isso, a Águas de Manaus obteve um crescimento de 93% no lucro líquido em apenas dois anos, 2019 e 2020.
Apesar disso, segundo a prefeitura, a empresa pressiona por aumento na tarifa de água da população de cerca de 25%.
Dessa maneira, demonstra que sua preocupação tem sido só com o seu capital.
Por exemplo, acaba de receber investimento de R$ 1,3 bilhão de sócia. Outra aplicou recentemente R$ 339,6 milhões no caixa da Águas de Manaus.
Diante desse cenário, a prefeitura negou a autorização de aumento da tarifa. Por meio da Procuradoria-Geral do Município, Almeida recorreu à Justiça para barrar tentativa da empresa de onerar mais as famílias, já bastante afetadas pela epidemia de covid (coronavírus) no Amazonas.
Ao mesmo tempo, a prefeitura leva a empresa à Justiça por quatro multas aplicadas em 2019 por descumprimento de contrato.
Tarifa social violada
Outro ponto que tem causado insatisfação à Prefeitura de Manaus é quanto ao número de famílias cadastradas na tarifa social. O benefício, que deveria estar chegando a 100 mil família, hoje é de 65,6 mil.
Manaus, conforme o IBGE, tem 176 mil famílias vivendo abaixo da linha de pobreza. Além disso, estão cadastradas 135 mil famílias no programa Bolsa-Família.
Em suma, a tarifa social chega a só 48,6% das famílias com direito ao benefício. A Águas de Manaus deve o direito a mais 69 mil famílias da capital.
Foto: Divulgação