A primeira viagem de Jair Bolsonaro a Manaus, um ano, cinco meses e três dias após se tornar ex-presidente do Brasil, saiu tudo fora do esperado por ele e distante do que seus aliados locais prepararam.
Assim que pisou na cidade, ele apresentou mal-estar. Foi orientado a procurar um hospital, mas, com histórico de atleta, ele manteve a agenda.
Assim sendo, ontem à tarde, o mito foi passear de barco. As ondas do rio Negro, porém, fizeram ele vomitar, não as palavras que vomitava para provocar náuseas nas pessoas. Vomitou tanto que precisou ir pro soro.
Depois, à noite, ele viria a sofrer outra forte dor, a da frustração. Aquele público que o recebia insano na cidade não estava no local de seu evento.
A minguada plateia que compareceu reagiu sem empolgação.
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Restava-lhe hoje, sábado, o encontro de sua esposa com as mulheres de direita. Mas, outra vez, outro evento diminuto.
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Mas Bolsonaro não pôde estar lá na hora. Atrasou. E muito! Não pôde chegar no tempo combinado, porque a ferida braba de sua perna, que lhe acompanha há muito tempo, voltou a lhe perturbar. (essa ferida foi mostrada pela primeira vez em dezembro de 2022 por seu filho Carlos ).
Aqui, com o calor dos trópicos, a erisipela inchou e ele quase perde o evento de sua esposa. Era coisa pra 5.000 pessoas, mas recebeu 800.
O que aconteceu?
Não há resposta, ainda que se queira explicar cientificamente. O ex-presidente é um negacionista da ciência.
Sobrenatural
E, como a racionalidade não pode ser servir de parâmetro, os fatos nos obrigam a tentar encarar o fenômeno pela vias paranormais.
Nesse campo, sobrenatural, em Manaus, o ex-presidente tem contas a ajustar com 14.495 almas. Esse foi total de pessoas que morreram de covid-19.
Quando a doença chegou, em março de 2020, o ex-presidente disse que, apesar do alarme da ciência, apenas “alguns” morreriam por se tratar de “uma gripezinha”.
Não foi uma gripezinha. Foi uma pandemia mesmo. A doença matou 711.964 pessoas no país.
Muitas dessas vítimas não foram somente vítimas do vírus, mas da desinformação e da irresponsabilidade do ex-chefe da nação. Daquele que jurava amor pela pátria.
Em abril de 2020, Manaus se transformou epicentro global da pandemia, na primeira onda. Muitos se contaminaram crendo nas fake news de Bolsonaro e dos bolsonaristas.
Quando a doença aqui chegou, ele, sem ser médico, receitou cloroquina.
As mortes começaram a vir. E ele viria a dizer “eu não sou coveiro”. Depois, lavando as mãos: “E daí? Quer que eu faça o quê?”.
Seguiu, mais tarde, mandando os eleitores de esquerda tomarem tubaína (refrigerante regional pouco conhecido), enquanto seguia passeando de moto.
E a vacina, que não queria comprar?
Segunda onda da covid
Em janeiro de 2021, Manaus voltaria a virar foco da tragédia mundial.
Com uma variante do vírus ainda mais agressiva, hospitais da capital ficariam superlotados.
Faltaram leitos e oxigênio. O Amazonas pediu socorro a Bolsonaro. No entanto, ao invés de ajuda, ele mandou um carregamento de cloroquina e uma equipe de seu Ministério da Saúde para obrigar as unidades de saúde locais a tratarem os pacientes com o remédio que estava matando, cloroquina.
O primeiro hospital a colapsar com a falta de oxigênio em Manaus foi o Santa Júlia, que divulgou não ter mais vagas para pacientes acometidos da covid-19.
Ironicamente, hoje, o Santa Júlia foi o hospital para onde Bolsonaro correu para tratar de sua ferida braba.
Com isso, sobrenaturalmente, fica comprovado que as almas dos mortos da covid de Bolsonaro ainda vagam nesse plano e que, neste fim de semana, tiveram o primeiro acerto de contas com ele por aqui.
Arte: Gilmal