Dois políticos do Amazonas foram confirmados, na tarde desta terça-feira (27), na CPI da covid no Senado que vai investigar as ações e omissões dos governos federal, estaduais e municipais no enfrentamento da pandemia da covid-19.
O senador Omar Aziz (PSD-AM) sagrou-se presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito. E o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que chegou a ser cotado como possível relator, é membro titular da CPI.
Além das presenças de destaque dos dois senadores do Amazonas, o estado também será alvo da investigação. O caso do desabastecimento de oxigênio em Manaus é um dos fatos determinantes da criação da CPI da covid-19.
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Por conta disso, o governo do estado estará na mira dos senadores. O que certamente levará o governador Wilson Lima a prestar esclarecimentos na comissão.
A pergunta que não quer calar é: será que esses fatos, a presença desses políticos na CPI tem relação, conexão com as eleições de outubro de 2022?
Para responder a esses questionamentos, que passam na cabeça do internauta-leitor, o BNC Amazonas ouviu um experiente deputado do Amazonas e um cientista social, professor da Universidade do Federam do Amazonas (Ufam).
Para se resguardar, o político tarimbado preferiu não ter seu nome revelado, mas fez declarações, emitiu opiniões importantes que ajudam a clarear o cenário pré-eleitoral diante da CPI da covid-19.
Omar Aziz pode virar alvo
Ao ser questionado sobre o que representa o senador Omar Aziz na presidência da CPI, o deputado amazonense afirmou que existem aspectos positivos e negativos no cargo.
“É positivo por causa da exposição que o senador vai ter e a oportunidade que ele terá de mostrar conhecimento, serenidade e equilíbrio. Claro que, quem vira presidente de uma CPI, que vai apurar erros do governo Bolsonaro, será alvo dos bolsomínions (os apoiadores fervorosos do presidente da República).
De acordo com o parlamentar amazonense, Omar Aziz poderá ter a vida revirada, as ações do governo dele deverão vir à tona.
“Esse é ônus que ele terá que pagar por ter essa posição tão relevante no seio do Congresso Nacional”, declarou a fonte política do BNC.
Busca pela reeleição ao Senado
Na leitura do experimentado político do Amazonas, o senador Omar Aziz – por não ter a intenção de se candidatar ao governo do estado no ano que vem e por não ser ferrenho adversário do governador Wilson Lima – “vai cuidar da vida dele”, fazendo o melhor que pode na condução da CPI para ter uma posição de destaque.
“O Omar vai buscar realçar a candidatura à reeleição dele ao Senado. Não creio que vá ficar preocupado em atrapalhar ou ficar contra o governador Wilson Lima”, declarou a fonte.
Recuo de Braga
O deputado amazonense também avaliou a desistência do senador Eduardo Braga para a relatoria da CPI da covid-19. Segundo ele, há dois aspectos: o primeiro deles é porque o líder emedebista, que tem intenção em se candidatar ao governo do Amazonas, em 2022, recuou do cargo para não ser alvo de contragolpe por parte dos governistas.
O outro motivo é que o Amazonas não conseguiria emplacar os dois cargos mais importantes da comissão.
“Se ele ocupasse a relatoria da CPI, fatalmente ele entraria na mira dos adversários e pagaria o ônus do cargo. Como apenas membro da comissão, Braga vai mirar apenas nas ações do adversário direto, no caso o governador Wilson Lima, que será exposto a questionamentos e confrontos nas investigações”, analisa fonte política do BNC.
Imagem de Wilson Lima
Ao avaliar a situação do governador Wilson Lima, diante da CPI da covid-19, e se as investigações podem afetar a reeleição dele, o deputado-fonte acredita que o abalo que o governo tinha que ter, já o teve quando enfrentou a CPI da Saúde na Assembleia Legislativa.
“Exceto a questão da falta de oxigênio, que ele deverá explicar, todas aquelas denúncias anteriores de superfaturamento já foram abordadas na comissão parlamentar local. Penso até que será uma oportunidade de o governador sair das cordas e se explicar na CPI do Senado, mostrar que não teve nada com isso”, analisou o deputado.
Divergência de opiniões
No contraponto da análise política do deputado amazonense, o sociólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luiz Antônio Nascimento, discorda de dois pontos sobre os papéis dos “atores políticos” locais na CPI da covid-19: Omar Aziz na presidência da comissão e os impactos no governo do estado.
A convergência ocorre apenas no significado do recuo de Eduardo Braga da relatoria da CPI. Para fugir dos holofotes e pensando na disputa pelo governo do estado, Braga deverá atuar na surdina da comissão, avalia o sociólogo.
Entrevista
A pedido do BNC Amazonas, o professor Luiz Antônio do Nascimento respondeu às seguintes perguntas:
BNC : Politicamente, o que representa o senador Omar Aziz na presidência da CPI da covid-19?
Luiz Antônio : A indicação do senador Omar Aziz tem um componente importante. Se você olhar as votações dele, como ele tem se posicionado no Senado, em relação ao governo Bolsonaro, é visível que tem se comportado de bolsonarista, apoiando as políticas do governo sobretudo no debate econômico. Na minha opinião, o Omar vai funcionar como um freio de arrumação em relação à posição dos parlamentares de oposição ao governo Bolsonaro. A prova disso é que o senador “saiu atacando” as ações ou inações do governo para aparentar uma posição crítica. Mas, disso eu duvido.
BNC : Na sua opinião, por que o senador Eduardo Braga recuou da relatoria da CPI? Será que foi para não se expor tanto e se proteger para a disputa no ano que vem? Ou teria outro motivo?
Luiz Antônio : Quanto ao Eduardo Braga, parece-me que a questão é muito simples: ele demonstrou, nas eleições passadas, ter perdido muito fôlego do seu capital político no estado. Uma presença ativa na CPI, sobretudo como relator, pode de fato iluminá-lo demais, deixando vir à tona as críticas aos governos dele. Então, a mim parece que a intenção do Braga é atuar mais na surdina e se apresentar como o governador que, depois do Amazonino Mendes, é o que mais obras tocou na área de saúde, fez concursos, direcionou orçamento. Penso que a estratégia do Braga é não se expor muito e mensurar a atuação de acordo com o andar da própria CPI.
BNC : A CPI vai investigar a falta de oxigênio em Manaus, provavelmente as denúncias de superfaturamento em equipamentos hospitalares no estado. Em que medida a CPI da covid-19 pode afetar a busca do governador Wilson Lima pela reeleição?
Luiz Antônio : Em relação ao governo Wilson Lima, a posição do senador Omar Aziz tem um sentido muito claro: há uma cadeia, uma correia de transmissão Omar-Melo e Wilson Lima. A mim parece que nessa posição, o senador Omar Aziz deverá atuar numa perspectiva de blindar a imagem do Wilson Lima numa tentativa, como já foi feito no passado recente, de atribuir as responsabilidades a secretários, técnicos, ao pessoal do primeiro e segundo escalão de governança. Com um desgaste bastante acentuado da gestão Wilson Lima, os senadores da República, especialmente o Eduardo Braga, vão tentar explicitar todas as fragilidades do governo do Amazonas.
Fotos: Edilson Rodrigues/Agência Senado