O prefeito de Manaus, Arthur Neto (PSDB), anunciou na madrugada desta quarta-feira, dia 12, que sua trajetória política, com mandato público, chegou ao fim e que, “definitivamente”, não se candidatará mais a qualquer outro posto.
“Minha cota se esgotou. Minhas ambições estão domesticadas”, resume Arthur, acrescentando:
“Concluirei este mandato, o derradeiro de minha vida, governando Manaus com uma dedicação extremada, que resumirá quatro décadas de amor. Até o último minuto de 2020”.
O tucano comentou que pretende continuar se manifestando de outra forma:
Permanecerei opinando, através de artigos, livros e palestras, sobre minha região e meu país. Mas deixo a política abjeta que aí está, à disposição dos profissionais da “sobrevivência”, dos torquemadas de plantão e dos hipócritas de quaisquer matizes. Sempre ansiando que o Brasil se reforme e se vá regenerando, para permitir a ascensão dos que virão livra-lo dos tipos ora citados.
Defesa sobre a Lava-Lato
Arthur fez o anúncio sobre o fim de sua carreira política ao postar um longo texto, em sua página no Facebook, manifestando-se a cerca da investigação autorizada contra ele pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), para apurar acusação de seu envolvimento em esquema de recebimento de propina da Odebrecht.
Ele inicia a publicação dizendo que iria se definir “de pronto” diante do que chamou de “mesquinha citação” de seu nome na lista dos delatores da empresa, porque não é chegado a escapismos do tipo “primeiro consultarei os autos” ou “conversarei com meus advogados”.
Logo em seguida, o prefeito diz estar com a consciência absolutamente tranquila e que os R$ 300 mil que teriam sido destinados a ele podem ter sido desviados por Cláudio Melo, o delator, ex-diretor da Odebrecht, que diz ter repassado tal quantia ao então senador Arthur.
“Após a surpresa inicial, cheguei a pensar que o sr. Melo pudesse mesmo ter embolsado essa quantia, quem sabe usando meu nome para driblar a contabilidade corrupta de sua empresa”, escreve o tucano.
Leia o texto, na íntegra
Não me afastarei jamais do estilo com que sempre me dediquei à coisa pública. Há quem prefira o papel do avestruz. Sou, porém, do tipo que não se furta aos enfrentamentos necessários à defesa de suas verdades. Por isso, defino-me, de pronto, diante da mesquinha citação de meu nome na tal lista dos “delatores premiados” da empresa Odebrecht. E não aprecio escapismos como “primeiro consultarei os autos” ou “conversarei com meu advogado”, antes de falar publicamente sobre assunto que diga respeito a minha reputação e a minha honra. Daí o esclarecimento que presto nesta hora, nítido como água pura de igarapés límpidos.
Um ex-diretor dessa empresa, sr. Claudio Melo, de acordo com “vazamentos”, pelos quais nunca ninguém se responsabiliza, teria afirmado que me repassou R$300 mil (trezentos mil reais), dando a entender que não me conhecia e que apenas estaria cumprindo ordens “superiores” de aproximar a Odebrecht de um “parlamentar influente”. Não se refere, segundo o tal “vazamento”, a nenhum “favor” que eu “deveria” prestar a quem quer que fosse.
Após a surpresa inicial, cheguei a pensar que o sr. Melo pudesse mesmo ter embolsado essa quantia, quem sabe usando meu nome para driblar a contabilidade corrupta de sua empresa. Não me importam, aliás, os detalhes da sordidez. Importa, e muito, o fato de minha consciência estar, como sempre esteve, absolutamente tranquila.
Doze anos deputado federal! E não há registro de nenhum gesto meu que tenha beneficiado a Odebrecht e seus lobistas. Dirigente nacional do meu partido por três anos, líder e ministro do presidente Fernando Henrique por um quadriênio inteiro e intenso. E não existe quem aponte qualquer coisa que me possa ligar a interesses empresariais. Senador por oito anos, liderando uma oposição renhida, e numericamente poderosa, ao governo Lula. E não há quem ouse supor que, por palavras ou atos, ajudei a deformar medidas provisórias.
Sou prefeito da sétima maior cidade do país pela terceira vez. E a Odebrecht, ao longo desse tempo, não plantou um único metro cúbico de asfalto em Manaus. Nenhuma relação. Absolutamente nenhum liame.
A relação entre “acusadores” e “delatores” não é suficiente para me calar nem me fazer “participante” de esquemas de achaques. São 39 anos de uma trajetória que erigiu um conceito do qual muito se orgulha minha família e que não está à disposição de ninguém. Nem do ilustre procurador Rodrigo Janot e nem do ínclito juiz Sergio Moro. Menos ainda de figuras menores que se cevaram no submundo do suborno e agora pretendem obter liberdade física para voltar a usufruir de dinheiro desonesto.
Meu sentimento ordena que enfrente a injustiça, com a altivez que corruptos e arbitrários não conseguiriam ter: cabeça erguida, rumo ao combate necessário e saneador.
Fala-se em “foro privilegiado”! Tantos se apequenam para obter mandatos controversos, com o fim “maior” de obtê-lo, com isso supondo a “conquista” da impunidade. Não sou realmente assim.
Cheguei à Câmara dos Deputados para enfrentar um regime autoritário e ajudar a restaurar as liberdades neste país. E aqueles não eram tempos de imunidades parlamentares! Cheguei ao Senado para representar o Amazonas, defender o Brasil e sustentar o legado do governo Fernando Henrique: estabilidade da economia, controle da inflação, responsabilidade fiscal e reformas estruturais. Não fui em busca de foros especiais (a bem da verdade, considero uma injúria ao STF supor-se que lá não se produz justiça), porque meu mandato servia para pensar a Amazônia e o Brasil e não para acobertar o atraso e nem o saque ao nosso povo.
Prosseguirei, então, na rota inversa ao oportunismo. Não disponho, como prefeito, de foro especial, privilegiado ou como bem pretendam denomina-lo. E vou continuar sem ele.
Concluirei este mandato, o derradeiro de minha vida, governando Manaus com uma dedicação extremada, que resumirá quatro décadas de amor. Até o último minuto de 2020. E, definitivamente, não me candidatarei mais a qualquer outro posto.
Permanecerei opinando, através de artigos, livros e palestras, sobre minha região e meu país. Mas deixo a política abjeta que aí está, à disposição dos profissionais da “sobrevivência”, dos torquemadas de plantão e dos hipócritas de quaisquer matizes. Sempre ansiando que o Brasil se reforme e se vá regenerando, para permitir a ascensão dos que virão livra-lo dos tipos ora citados. Minha cota se esgotou. Minhas ambições estão domesticadas.
Há outros meios de servir lealmente ao Amazonas, ao Brasil e a minha Manaus.
Foto: BNC