Bancada do AM quer legalizar ação de garimpeiros no rio Madeira

A maioria das pessoas, que tiveram suas balsas incendiadas pela PF, era do chamado “extrativismo mineral familiar, contam prefeitos da região

bancada, am, legalizar, garimpeiros, madeira

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 01/12/2021 às 20:40 | Atualizado em: 02/12/2021 às 10:20

Os parlamentares da bancada do Amazonas no Congresso se reuniram, nesta quarta-feira (1º), na liderança do MDB no Senado, com quatro prefeitos e representantes de garimpeiros do rio Madeira a fim de buscar uma solução para as famílias que extraiam o ouro de forma artesanal e tiveram suas balsas destruídas pela ação da Polícia Federal (PF). 

Segundo relatos dos prefeitos de Humaitá, Manicoré, Novo Aripuanã e Borba, a maioria das pessoas que teve suas balsas incendiadas pela PF era do chamado “extrativismo mineral familiar.” 

Trata-se de uma atividade que era legalizada por uma lei estadual até 2012, mas que foi suspensa após o Ministério Público Federal (MPF) alegar incompetência do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) para autorizar esse tipo de atividade. 

“Os prefeitos que estão nessas áreas onde há a exploração, muitas vezes por famílias, trouxeram uma proposta para agente encaminhar e regularizar essa atividade, o que nós não podemos é permitir prejuízo ambiental”, avisou o coordenador da bancada, senador Omar Aziz (PSD). 

Para ele, o governo federal fez uma ação pontual na região apenas para mostrar ao mundo que existe uma política ambiental no país. “A gente sabe que não é bem assim”, afirmou. 

Questionado sobre o uso de dragas e a possível presença do narcotráfico naquela ação, o senador disse que é preciso aguardar as investigações da Polícia Federal.

Na mesma linha, o senador Plínio Valério (PSDB) disse que as pessoas foram tratadas como criminosas por praticar “garimpagem familiar.” 

“Veja não é balsa. É um flutuante onde ele mora e tira algumas gramas para vender (…) Há uma pressão internacional sobre o governo federal que vê uma oportunidade boa de dizer que está trabalhando e queimaram”, avaliou o tucano.

 Dragas e ouro

Plínio diz que questionou o uso de dragas, a presença de quem tem muito dinheiro e a ação do narcotráfico na região. “Mas eles estão afirmando que não tem draga. É tudo na bomba e mergulho”, observou. 

O deputado José Ricardo (PT) contou que ouviu relatos sobre o início da atividade apenas extrativista, artesanal e familiar, mas depois começaram a chegar as dragas vindas de Rondônia. “O rumor de que tinha ouro concentrou todo mundo ali”, explicou o deputado. 

Diante da destruição das balsas que serviam de moradia para as famílias, o deputado solicitou ao Ministério da Cidadania que fizesse o cadastramento das pessoas afetadas para a concessão de um auxílio emergencial.

Leia mais

Na reunião, a representante dos Extrativistas Minerais do Madeira, Rafaela de Souza Barreto Mota, diz que o problema começou com a chegada das dragas trazidas por cooperativas de garimpeiros.

Audiências Públicas 

“O fato concreto é que tudo isso é um grande mal-entendido, fruto da ausência do estado brasileiro, completamente ausente no Amazonas. Há um vazio institucional muito forte que produziu essa situação. Então nós acertamos que vamos reconstruir isso”, disse o deputado Silas Câmara (Republicanos). 

O deputado, que coordenou a etapa final da reunião, anunciou audiências públicas em cada município, reconstrução do banco de dados do garimpo artesanal e um termo de ajuste de conduta para que a atividade seja novamente legalizada. 

No seu entendimento, esse tipo de ação vai inibir a presença do poder econômico e narcotráfico na região. 

As primeiras audiências já estão marcadas para 7 de janeiro nos municípios de Humaitá e Manicoré. No dia seguinte, será a vez de Novo Aripuanã e Borba. Após essa fase, será feita outra audiência em Brasília.   

“Isso para que as audiências feitas nos municípios repercutam no Congresso para buscarmos a legalização do que já aconteceu com o extrativismo mineral familiar”, afirmou o prefeito de Humaitá, José Cidenei lobo.  

Ele destacou a importância da participação do Ipaam e do governo federal no processo, sendo este último responsável pela mineração nos rios. “Os municípios pretendem fazer sua parte, o estado a sua e o governo federal também”, concluiu. 

O prefeito de Novo Aripuanã, Jocione dos Santos, explicou que veio a Brasília para abrir um diálogo diante da destruição de patrimônio de muitas famílias.  

“A gente sabe que há 40 anos famílias vivem da atividade do ouro. É claro que chama atenção, surgem novas pessoas. Vamos fazer um levantamento pelas nossas secretarias de meio ambiente e apresentar ao governo uma proposta como pretendemos explorar o ouro do rio madeira”, disse. 

Além dos dois, participaram da reunião o prefeito de Borba, Simão Peixoto Lima, o vice de Manicoré, Paulo Sérgio Machado. Vereadores e presidentes de câmaras municipais também compareceram.   

Da bancada do Amazonas, apenas o deputado Átila Lins (Progressistas) não esteve presente. Ele se encontrava em missão internacional e enviou uma mensagem de vídeo da Assembleia da União Interparlamentar (UIP), em Madrid: 

“Espero que a reunião com os prefeitos possa encontrar alternativas junto ao Ministério da Justiça e a Polícia Federal no sentido de restabelecer a paz e a dignidade do povo da região do Madeira”.

Fotos: Ariel Costa