Bancada do Amazonas defende investigação às declarações de Moro

Da bancada, três deputados consideram graves as acusações do ex-ministro da Justiça contra as intervenções de Bolsonaro na Polícia Federal.

bancada, amazonas, investigacao, moro

Aguinaldo Rodrigues,   DA REDAÇÃO DO BNC AMAZONAS EM BRASÍLIA

Publicado em: 25/04/2020 às 00:50 | Atualizado em: 25/04/2020 às 00:50

Sete dos 11 membros da bancada do Amazonas, no Congresso Nacional, fizeram pronunciamento sobre a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça nesta sexta-feira, dia 24.

Três deputados federais consideram graves as declarações do ex-ministro, principalmente sobre uma possível interferência do presidente Jair Bolsonaro nas ações da Polícia Federal.

Outros três deputados e um senador preferiram posições neutras e ficaram em cima do muro. Lamentaram a saída de Moro, mas defenderam a continuidade do governo Bolsonaro.

A unanimidade da bancada federal, ouvida pelo BNC, foi com relação à crise política instalada nesse grave momento de crise, causada pela pandemia do coronavírus no país.

“Lamento profundamente que isso esteja ocorrendo, no momento em que a gente atravessa uma grave crise, a maior da história recente do país, que afeta diretamente a saúde e a economia e passam agora para uma instabilidade política”, disse o deputado federal Sidney Leite (PSD-AM).

 

PRG e Congresso precisam apurar

Na opinião de Sidney Leite, as afirmações do ex-ministro Sérgio Moro são muito graves porque ele cita interferência em investigação da Polícia Federal.

Essas investigações, no pensar do deputado, poderiam estar envolvidas pessoas próximas ao presidente da República.

“Defendo, sim, que seja apurado, afinal não estamos falando de algo qualquer. Estamos falando do presidente da República, portanto, isso é muito grave, muito sério”, afirma o deputado.

A investigação, pelo Congresso Nacional, faz-se necessária também porque envolve parlamentares. Estes estariam envolvidos em fake news.

Sidney Leite lembra que, recentemente, ocorreu um movimento brusco do presidente da República, com a demissão do ministro Luiz Henrique Mandeta.

Na opinião do deputado, vinha fazendo um bom trabalho à frente do Ministério da Saúde.

“Não é uma mera demissão, mas uma demissão com afirmações muito graves do ex-ministro Sérgio Moro e isso não pode passar despercebido. Por isso, defendo que seja apurado, investigado. Não podemos mais voltar a um país em que as coisas ficavam por baixo dos panos”.

 

Entre a euforia e a cautela

O deputado Marcelo Ramos (PL-AM) teve duas posições no decorrer do dia, em que Moro saiu “atirando” e o presidente Bolsonaro veio a público contrapor as declarações.

Logo cedo, Ramos foi às redes sociais e disse:

“A saída de Moro gerará uma crise institucional, que precisa ser rapidamente superada para que não dispersemos os esforços do combate ao coronavírus e a preservação da vida dos brasileiros”.

Citando um amigo, Marcelo disse que o ex-ministro não deu uma entrevista coletiva. Ele fez uma delação premiada.

“Um ministro dizer que o presidente trocará o diretor da PF por interesse de interferir em inquéritos é muito grave. Não há duvidas de que o relato de Moro configura crime. Bolsonaro nega. Qualquer caminho passa pelo dever de investigação pela PGR e pelo Congresso Nacional. A República não pode resistir a essa dúvida”, escreveu Marcelo em suas redes sociais.

Ao responder ao BNC, o parlamentar amazonense foi mais cauteloso. Lamentou que uma crise dessas, de natureza política, surja nesse momento com o risco de se sobrepor aos esforços que devem ser concentrados na preservação das vidas no combate ao coronavírus.

Quanto à existência de crime de responsabilidade, o deputado disse que a simples fala do ministro, com a negativa do presidente, é a palavra de um contra o outro.

“Surgiu, agora, mensagem de celular que geram indícios que precisam ser investigados. O momento é de prudência, aguardar o desenrolar dos fatos, ver o que mais o ex-ministro tem para se tome uma decisão”, ponderou Ramos.

 

Críticas a Moro

O deputado José Ricardo (PT-AM) também diz que a troca de acusações entre Sérgio Moro e o presidente Bolsonaro precisa ser investigada.

O parlamentar voltou a afirmar que Sérgio Moro foi quem viabilizou a eleição do atual presidente da República ao condenar, sem provas, o ex-presidente Lula.

O petista fez críticas à atuação do ex-ministro da Justiça. Disse que Moro teve poucas realizações e que foi omisso em questões como as manifestações contra a democracia, no domingo, dia 19; nos casos de corrupção, com relação ao meio ambiente e terras indígenas.

“Quanto às investigações e pedidos de impeachment, partidos como a Rede, PCdoB e Psol já tomaram providências. O PT entende que é hora de fazer uma grande mobilização junto à sociedade pedindo o afastamento de Bolsonaro”, afirmou José Ricardo.

 

Aliados põem “panos quentes”

Da parte dos aliados do presidente Jair Bolsonaro, nada de críticas nem investigações pela Procuradoria-Geral da República e Congresso Nacional.

O deputado Átila Lins (PP-AM) lamentou a saída de Sérgio Moro, do Ministério da Justiça.

Na avaliação do parlamentar, o ex-ministro vinha fazendo um grande trabalho, tanto na área da justiça, quanto na de segurança pública.

Quanto ao pedido de demissão, Átila defendeu Moro e Bolsonaro:

“O regime é presidencialista e a nomeação é de livre escolha do Presidente da República. Mesmo que você não goste da decisão, essa atribuição é dele. Espero que o presidente não se arrependa do gesto. Pois, perdeu um grande ministro, que dava grande sustentação ao governo”.

Em um vídeo, publicado nas redes sociais, logo que Moro pediu demissão, o deputado Delegado Pablo (PSL-AM), também lamentou a saída do ex-juiz e ex-ministro da Justiça.

“Como um verdadeiro maestro, combateu a criminalidade e a corrupção no Brasil. Mantenho o meu compromisso com a autonomia e a independência da Polícia Federal nas investigações que resgataram o orgulho dos brasileiros”, publicou o delegado Pablo nas redes sociais.

 

União entre os Poderes e a sociedade

Em nota, o deputado Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM) disse que, no momento, é preciso salvar vidas. Pois, nas últimas 24 horas, 357 pessoas morreram por covid-19 no Brasil. No total são 3.670 mortes.

“Infelizmente, em meio a uma pandemia, nasce uma crise política, institucional e jurídica em nosso país. O momento precisa ser de união entre Executivo, Legislativo, Judiciário e sociedade. Todos nós temos o mesmo inimigo e precisamos focar em salvar vidas e preservar os empregos e garantir que o brasileiro consiga levar o sustento para sua família”, diz o deputado-capitão da PM.

Para Alberto Neto, Moro teve uma atuação brilhante como juiz e realizou o mesmo trabalho na Esplanada, à frente do Ministério da Justiça, no combate ao crime organizado. Por isso, tem o reconhecimento dele.

“Agora temos uma responsabilidade e um desafio ainda maior no Congresso Nacional que é aprovar as medidas econômicas e garantir recursos para a Saúde e para a Economia, e assim seguiremos. Torço pelo governo do presidente Jair Bolsonaro e pelos seus ministros. Mas, acima de tudo torço pelo Brasil” disse.

 

Plínio Valério destoa do partido

Destoando da direção nacional do PSDB e do tucano-mor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Plínio Valério (PSDB-AM) saiu em defesa do presidente Jair Bolsonaro.

Já o ex-presidente FHC pediu que Bolsonaro renuncie ao cargo antes que seja “renunciado”, em referência um provável pedido de impeachment do presidente da República.

“O presidente, com certeza, deve ter concluído que está forte o suficiente para fazer hoje o que pensava fazer amanhã. Torço para que ele tenha firmeza suficiente para comandar o barco nessa travessia sob tempestade. Porque, mais importante de saber quem perde ou ganha, é torcer para o barco não ficar fazendo tanta água e afundar”, disse Plínio Valério.

Não se manifestaram sobre a saída de Sérgio Moro nem sobre uma investigação pela PGR e Congresso Nacional os deputados federais Bosco Saraiva (SD-AM), Silas Câmara (Republicanos) e os senadores Omar Aziz (PSD-AM) e Eduardo Braga (MDB-AM).

 

Foto: BNC Amazonas