O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), está sendo aconselhado por aliados do Amazonas a desistir da agenda marcada para esta sexta (23) em Manaus. Até o início da tarde de hoje (22) o site do Palácio do Planalto ainda não havia divulgado a agenda de amanhã.
O conselho ocorre após deputados estaduais fazerem questão de publicar que não aprovaram título de Cidadão do Amazonas a Bolsonaro. Disseram, portanto, que não votaram no projeto do colega Delegado Péricles (PSL).
Além disso, houve quem retirasse o voto sim para concessão da honraria.
Como resultado, de 24 membros da Assembleia Legislativa (ALE-AM), apenas 13 deram “sim” à ideia do bolsonarista Péricles.
O episódio mostrou que Bolsonaro, líder político no auge de seu mandato, não tem apoio político na principal casa legislativa do Amazonas. Restaram mesmo só os votos favoráveis da base do governo Wilson Lima (PSC).
Para piorar ainda mais esse ambiente na casa, um dos que não votaram na cidadania amazonense a Bolsonaro foi a deputada Nejmi Aziz (PSD). Ela é mulher do futuro presidente da CPI da covid, o senador Omar Aziz (PSD).
Repulsa coletiva
Desde o momento que os deputados aprovaram a cidadania amazonense para Bolsonaro, manifestações contrárias de várias entidades da sociedade.
Contudo, a mais simbólica a mostrar a situação vexatória a que o presidente foi submetido foi o ato coletivo de pelo menos sete personalidades que foram hoje (22) à ALE-AM devolver o título. Recusaram-se, portanto, a gozar da mesma honraria dada a quem consideram um inimigo do Amazonas.
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Puxadinho
De acordo com aliados do presidente, outro fato que pesa contra a visita dele a Manaus é a obra que irá inaugurar.
Trata-se de uma expansão do centro de convenções Vasco Vasques, obra do governo Dilma Rousseff (PT) para a Copa do Mundo 2014.
Naquele evento, o local ganhou bastante visibilidade como base da mídia nacional e internacional na cobertura dos jogos na Arena da Amazônia.
Dessa forma, ao entregar puxadinho de origem petista, fatalmente será lembrado que Bolsonaro não tem uma obra para chamar de sua no Amazonas.
Ataques à ZFM
Não bastassem todos esses motivos, neste momento é lembrado que Bolsonaro mantém ofensiva sistemática à Zona Franca de Manaus (ZFM).
Ataques que começaram com a redução dos incentivos fiscais para o setor de produção de concentrados para bebidas.
E o último foi a abertura do mercado nacional à importação de bicicletas. Embora seja um ato de Bolsonaro que atinge todo o país, ele é especialmente danoso para o polo industrial do Amazonas.
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Oxigênio
Por fim, e com um peso que vai ser difícil Bolsonaro fazer o amazonense esquecer, está o drama vivido em janeiro deste ano. Foi durante o pico da segunda onda do coronavírus (covid) no estado, mais letal que em 2020.
Quando o Amazonas precisou de oxigênio para socorrer os hospitais, o governo federal custou a atender o pedido de socorro. Tanto que o então ministro da Saúde é denunciado na Justiça de ter sido omisso nas suas obrigações.
Nesse episódio, mais grave em Manaus, ao invés de oxigênio, o governo Bolsonaro mandou força-tarefa da cloroquina. Equipe do Ministério da Saúde quis obrigar médicos amazonenses a administrar o kit covid do “tratamento precoce”.
Em suma, essa sucessão de fatos criou o clima hostil para Bolsonaro no Amazonas. Uma nova realidade que já aparece na queda de popularidade do presidente no estado.
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