Carestia de combustíveis leva Bolsonaro a ser bombardeado de críticas
Economistas, caminhoneiros e petroleiros afirmam que governo toma “medidas paliativas”, eleitoreiras

Antônio Paulo, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 08/06/2022 às 16:10 | Atualizado em: 08/06/2022 às 16:17
As propostas para reduzir o preço dos combustíveis, anunciadas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), receberam duras críticas de economistas, caminhoneiros e sindicatos dos petroleiros.
“O governo tenta resolver um problema complexo com uma solução tabajara. Retirar o ICMS dos combustíveis, que não é uma receita da União. É como tomar dinheiro do vizinho para pagar uma conta da minha casa”, reagiu o presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava). Wallace Landim, o Chorão Caminhoneiro.
A Abrava lembra que a isenção do PIS, Cofins e da Cide representam 6% na composição do preço do diesel e que a proposta do governo “não refresca em nada na vida do caminhoneiro”, além de não resolver a inflação “que está matando o povo mais pobre de fome”.
“Os preços dos combustíveis vão continuar subindo porque o problema não está sendo enfrentado; esse movimento é só um paliativo para aumentar o diesel novamente, pois, se não aumentar o preço, vai faltar diesel nos postos, fruto da política de preços da Petrobrás, empresa criada com dinheiro público e que o governo é acionista majoritário”, disse Landim.
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Quebra do pacto federativo
Na avaliação do economista e professor da UnB, César Bergo, as medidas anunciadas pelo presidente Bolsonaro é uma forma de pressionar o Senado a aprovar o projeto de lei 18/2022.
“É uma medida que governo toma para movimentar o sistema político, mas ignora os impactos nos estados e, sim, quebra o pacto federativo, a autonomia dos governos estaduais para legislar sobre impostos”..
Por isso, César Bergo criticou o governo por tentar “enfiar goela abaixo” as propostas para reduzir o preço dos combustíveis.
Assim como o teto de ICMS aos estados e uma compensação de até R$ 50 bilhões, desde que os governos estaduais zerem o imposto.
“A compensação que o governo está propondo só vai até 31 de dezembro deste ano. E nos anos seguintes, como as perdas dos estados serão repostas? Como os estados vão sobreviver?”, disse o professor de economia da UnB.
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Medidas inócuas
Para a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a coletiva sobre o preço dos combustíveis foi mais um anúncio improvisado de Bolsonaro para tentar enganar a população a quatro meses das eleições presidenciais.
“Mais uma medida inócua que não resolverá a escalada de preços dos combustíveis, uma vez que o problema é a equivocada política de preço de paridade de importação”, avalia o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar.
Ele ressalta que a proposta prevê transferência de recursos para compensar redução de arrecadação tributária de estados e municípios, enquanto mantém intocáveis dividendos exorbitantes para acionistas privados da Petrobrás.
“Não adianta mentir, Bolsonaro. O GLP (gás de cozinha) já estava com os impostos federais reduzidos e, no entanto, o preço do gás de cozinha continua a subir”, lembra o coordenador da FUP.
Por outro lado, a Abrava diz que vem alertando o governo e o país sobre o seguinte: 30% do diesel, consumido no Brasil, é importado por terceiros e se eles não tiverem lucro, não irão mais importar; os outros 70% são importados pela Petrobras, que usa uma política de preços baseada no mercado internacional para pagar seus acionistas, “que estão saqueando os caminhoneiros e o povo brasileiro”.
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Tese do “abrasileiramento”
Além disso, na avaliação do economista e professor da UnB José Luís Oreiro, os caminhoneiros estão cobertos de razão quando preveem desabastecimento.
“O diesel na Espanha está custando 2 euros, o que dá mais de R$ 11. O diesel no Brasil está sendo vendido por menos de R$ 7. Se o diesel não fizer equiparação com o preço internacional, vai faltar diesel nos postos e o Brasil vai parar”.
Segundo Oreiro, o governo só está fazendo paliativo, já que não tem nenhuma iniciativa, não é proativo em nada.
“Agora, estão adotando uma ideia de querer usar os dividendos da Petrobrás para fazer o subsídio, proposta essa que já venho mostrando ao governo e ao ministro Paulo Guedes, mas ele não tem honestidade intelectual para reconhecer que essa ideia é minha”.
Desse modo, a tese do economista é a seguinte para encontrar o “preço real” dos combustíveis é a seguinte:
- o preço precisam seguir a paridade internacional para não haver desabastecimento, mas é necessário “abrasileirar!” esse valor do diesel, gasolina e demais derivados do petróleo;
- reinvestimento em novas refinarias para processar o petróleo bruto que temos;
- subsídio temporário aos combustíveis e voucher aos motoristas que precisam para trabalhar. Recursos viriam dos dividendos da União no faturamento da Petrobrás.
Promessa de caminhoneiro
“O que nos deixa mais indignado é que somos autossuficientes em extração de petróleo bruto, mas por falta de planejamento, corrupção e incompetência não conseguimos refinar aqui no Brasil para atender nosso mercado interno”, disse Chorão..
Portanto, na opinião do presidente da Abrava é que o presidente Bolsonaro só está preocupado com reeleição, já os caminhoneiros e o povo brasileiro estão preocupados em colocar comida na mesa de suas famílias.
“Não vemos luz no fim do túnel, por isso, voltamos a afirmar: o país vai parar”.
Foto: Renato Araújo/Agência Brasil