Conselho Indigenista e ONGs pressionam Lula para vetar PL da Devastação

ONGs e o Cimi pedem veto integral de Lula ao PL que enfraquece o licenciamento ambiental.

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 18/07/2025 às 18:43 | Atualizado em: 18/07/2025 às 18:43

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e organizações não-governamentais com atuação na área do meio ambiente e direitos humanos pressionam o presidente Lula da Silva para que vete o PL da Devastação aprovado pelo Congresso.

Por 267 votos a favor e 116 contrários, o projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental foi aprovado na Câmara na madruga dessa quinta-feira (17). Em maio passado, o texto teve o aval do Senado.

Ao considerar o maior retrocesso ambiental legislativo dos últimos 37 anos, o Cimi diz esperar que Lula se posicione com “firmeza e coragem, vetando integralmente o projeto.”

“Caso contrário, também ele será lembrado, nestes tempos de COP30, como o gestor público que se alinhou a um parlamento que legisla contra os direitos fundamentais das pessoas, da terra e da natureza”, adverte a entidade em nota publicada nesta sexta-feira (18).

De acordo com o Cimi, o parlamento abre portas para a exploração ambiental e a invasão de territórios tradicionais, ignorando todos os apelos dos povos indígenas, ambientalistas, cientistas, promotores de justiça especializados em meio ambiente e profissionais da saúde.

“Todos alertaram que o projeto representa um retrocesso, capaz de provocar mais desmatamento, mais poluição, aumento de riscos de desastres, agravamento da crise sanitária e, sobretudo, a violação dos direitos de populações tradicionais, especialmente dos povos indígenas”, diz a entidade.

Veto

A ONG Conectas, que acionou no início deste mês o Conselho de Direitos Humanos da ONU contra o projeto, diz que o veto presidencial é necessário “para que sejam retomadas as bases racionais para o debate legislativo e com a sociedade sobre essa matéria.”

O diretor de litigância e incidência da Conectas, Gabriel Sampaio, afirma que as organizações socioambientais defendem o veto integral ao projeto.

Contudo, mesmo que o Executivo decida vetar total ou parcialmente o texto, a entidade considera que há forte risco de que o Congresso derrube os vetos, dada sua composição majoritariamente ruralista.

Caso os vetos sejam superados, o diretor defende como única alternativa recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Com base em parecer jurídico, a entidade diz que há inconstitucionalidades no projeto como dispensa de etapas técnicas obrigatórias e de participação social.

Alerta ainda para o fato de que o novo modelo fragmenta o sistema nacional de licenciamento, gerando insegurança jurídica e abrindo caminho para uma enxurrada de ações judiciais.

“A aprovação do PL da Devastação coloca em risco a integridade do licenciamento ambiental como ferramenta para garantir avaliação segura e prevenção de impactos e danos ambientais sobre empreendimentos”, diz o advogado.

O Observatório do Clima, que reúne mais de 100 organizações ambientais, lembra que o presidente Lula tem prazo de 15 dias úteis para vetar o projeto na íntegra, porque não há como salvar o texto com vetos pontuais.

“O licenciamento ambiental pode ser aperfeiçoado, mas isso deve ser feito com participação da sociedade e critérios técnicos e científicos. O PL 2.159 é a antítese da solução para o licenciamento”, considera o Observatório.

Projeto

De acordo com especialistas, o projeto legitima a ampla aplicação da Licença por Adesão e Compromisso (LAC), o chamado autolicenciamento, em que o empreendedor faz uma declaração pela internet sem apresentar qualquer estudo ambiental.

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Além disso, promove a Licença Ambiental Especial (LAE), que dará tratamento político a grandes projetos.

A matéria é criticada ainda por restringir a atuação de órgãos como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil