Decreto de Bolsonaro contra queimadas é ignorado no sul do Amazonas
Decreto federal estipula em 120 dias o tempo de proibição de queimadas na Amazônia. E, no entanto, o Amazonas aparece na liderança dos focos.

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 18/08/2020 às 19:13 | Atualizado em: 18/08/2020 às 19:13
Dados registrados em tempo real pelo projeto MAAP (Monitoramento da Amazônia Andina) revelou 242 focos de queimadas na Amazônia entre 28 de maio e 12 deste mês, sendo 94 deles na região sul do Amazonas.
Um detalhe: 95% dos focos violam o decreto (15 de julho) do governo de Jair Bolsonaro que proíbe queimadas na região por 120 dias.
Os maiores registros estão no município de Apuí, seguido de Lábrea, Manicoré e alguns poucos em Humaitá.
O Amazonas é o que possui o maior número de queimadas, seguido do Pará (85), Mato Grosso (39), Rondônia (23) e Acre (1).
“Quatorze dos focos de incêndios ocorreram em unidades de conservação. Destas, as mais afetadas foram as Florestas Nacionais de Jamanxim e Altamira, no Pará, áreas afetadas pela mineração, pela extração de madeira e pela grilagem”, diz o relatório do MAAP.
Ao todo são 127.866 hectares destruídos, o equivalente a área do município de São Paulo. Dois terços dos episódios ocorreram nas duas primeiras semanas de agosto, indicando o início da temporada de queimadas na Amazônia.
Segundo o Mongabay, site especializado em notícias ambientais, apenas dois dos focos registrados foram confirmados como incêndios florestais, totalizando 1.447 hectares.
O restante ocorreu em terras desmatadas nos últimos dois anos, ressaltando a importância do desmatamento como catalisador de incêndios na Amazônia.
“Argumentamos que a questão central é na verdade o desmatamento. Os incêndios são, na verdade, um indício incandescente dessa perda de floresta”, afirma o relatório.
Conclusão
O MAAP já havia detectado por meio das imagens de satélite da base de dados Planet Explorer que muitos incêndios, em 2019, queimaram áreas previamente desmatadas no início do mesmo ano, destinadas a pastagens e áreas de cultivo.
“Com base nessa descoberta, o MAAP previu que os locais de incêndio em 2020 seguiriam o exemplo, ocorrendo em áreas que sofreram desmatamento no começo do ano”, diz o Mongabay
“O relatório do MAAP foi publicado na mesma semana em que o presidente Jair Bolsonaro afirmou que essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira“, lembrou.
Fotos: Vinícius Mendonça/Ibama