Imagine o polo industrial da Zona Franca de Manaus (ZFM), que há 55 anos fabrica aparelhos de TV, motos, motores de popa, computadores, celulares, aparelhos de ar condicionado; que faturou em 2021 quase R$ 160 bilhões e que emprega mais de 100 mil pessoas, transformado em um call center.
Você sabe o que é um call center?
É um local montado para recebimento de ligações para interação com clientes. Digamos: um salão com um monte de gente para atender ligações.
Pois é isso que pensa o empresário Alexis Fonteyne, deputado federal de São Paulo, do Novo, para o futuro da ZFM, que ele chama de “excrescência”.
Para ele, que não sabe o que é o polo industrial de Manaus nem nunca viu a ZFM, porque diz que ela é apenas “uma pequena região”, perto de Manaus, o modelo não tem vocação para indústria de transformação.
Por isso, Alexis Fonteyne sugere também que “aquela pequena região” procure sua vocação natural.
Qual é essa vocação?
Ele mesmo diz: “preservação da mata”, “prestação de serviços ambientais”, “geração de uma criptomoeda”, “turismo”, ou até, quem sabe, um call center, que ele defende assim:
“Um call center que pode ser instalado lá, ou alguma coisa de altíssimo valor agregado, como até tem hoje, onde não faz a menor diferença você estar lá”.
Meu pirão primeiro
Deputado Alexis Fonteyne, as indústrias do Amazonas, que hoje tiram a pressão econômica sobre a floresta amazônica, irão para onde?
De pronto, ele responde: Para São Paulo, estado dele. Ele disse isso, chamando a ZFM de “cara excrescência”.
“Tira a indústria de transformação da Amazônia, que nem é a vocação da Amazônia, a indústria de transformação, traz ela para os grandes centros, onde está mais próxima do cliente, onde o consumidor está lá, acaba com a cara excrescência”.
Para o deputado paulista, se isso acontecer, a Amazônia ficará melhor.
“Dá uma outra vida muito melhor para a Amazônia, de modo que a gente, inclusive, possa gerar muitos mais empregos na Amazônia”.
Onde Alexis Fonteyne falou isso?
O deputado falou isso num vídeo que postou no Facebook, que já alcançou 95 mil pessoas e que esta semana chegou aos investidores do polo industrial.
Mentira
No vídeo, ele se mostra indignado com å informação de que o governo federal vai editar um novo IPI para se ajustar à decisão do Ministro Alexandre Moraes que atendeu pedido da Bancada Federal do Amazonas para que os atos do governo sobre a redução do tributo federal não afetassem a ZFM.
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É nesse ponto que Fonteyne mente, porque ele diz que a decisão de Moraes atingiu todo o Brasil. Diz também que, assim, o país se tornou refém Zona Franca de Manaus.
“O Brasil não consegue diminuir imposto porque a ZFM entrou com Ação Direta de Inconstitucionalidade proibindo diminuição de IPI, de todos os produtos no Brasil”.
Logo em seguida, ele mostra o geocentrismo paulista de seu discurso e mostra também sua profunda ignorância sobre o modelo. Ele mostrou isso quando disse que a ZFM fica “lá perto de Manaus”.
“O governo tentou diminuir em 35% e a ZFM, uma pequena região, lá, perto de Manaus, que produz motocicleta, televisor… Não, não, não, não”, brada o deputado do Novo.
Depois, insiste na mentira:
“O Brasil não pode diminuir o IPI, porque nós não podemos perder nossa vantagem competitiva e criou-se uma grande distorção”.
A verdade
Manaus é a sede da Zona Franca de Manaus e teve seus limite definidos pelo artigo 2º do decreto DECRETO Nº 61.244, DE 28 DE AGOSTO DE 1967 , que regulamenta o Decreto-Lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967, que criou a ZFM.
Aqui estão instaladas mais de 500 empresas de marcas mundiais e nacionais.
Sobre o IPI. A verdade é que a redução do IPI foi aplicada a toda indústria nacional. Só não valeu para a ZFM porque ela tem garantias da Constituição Federal de ser uma indústria de produção em caráter excepcional.
VIDEO
Foto: Reprodução/YouTube/Câmara dos Deputados