Alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por obstruir apreensão de madeira na Amazônia, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (foto ), pediu demissão do cargo nesta quarta-feira (23).
No lugar dele, assume Joaquim Álvaro Pereira Leite, que comandava na pasta a Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais.
O novo ministro também foi conselheiro por 23 anos da Sociedade Rural Brasileira, entidade do agronegócio.
O ministro se notabilizou por uma política de desmonte da estrutura dos órgãos ambientais e pela desregulamentação da legislação na área, vide a proposta de “passar a boiada” feita numa reunião ministerial.
Na avaliação do senador Plínio Valério (PSDB), porém, o ministro saiu do cargo por causa da ação das organizações não-governamentais (ongs) que não lhe deram sossego.
“Sem entrar no mérito, a demissão dele mostra o quanto as ongs ambientais são fortes, pois elas não deixaram o ex-ministro um só dia em paz”, afirmou o senador.
Para ele, o ministro também era o responsável pela condução de uma política na área ambiental que tinha total aval do presidente Jair Bolsonaro.
“O presidente Bolsonaro perde, sem dúvida, um porta-voz”, disse o senador, que é autor da proposta de criação no Senado da CPI das Ongs.
Novo tempo
Já para o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL), o motivo é de comemoração.
“Caiu o antiministro do meio ambiente. É preciso que isso inaugure um novo tempo na política ambiental do país”, disse Ramos.
“O meio ambiente deve ser lastro da boa imagem do nosso Brasil. Pelos seus atos, Ricardo Salles agora deixa de ser assunto da política e passa a ser assunto de polícia”, completou.
O deputado Bosco Saraiva (Solidariedade) avaliou que o ministro não tinha mais condições de permanecer no cargo.
“O exercício de função no Estado precisa de, entre outras coisas, estabilidade. É claro que o comando do ministério do meio ambiente, sob Ricardo Salles, era instável desde muito, portanto o ex-ministro tomou a decisão de sair demasiado tarde”, disse o deputado.
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Governo derretendo
O deputado José Ricardo (PT) diz que a demissão do ministro demonstra que o governo Bolsonaro está derretendo.
“O ministro estava ajudando e patrocinando grandes empresas a desmatarem a Amazônia. Ele está respondendo inquérito na Polícia Federal. Nos últimos anos, ele contribuiu para a degradação e desmatamento na região”, criticou.
Por outro lado, o deputado diz que saída de Salles não pode encobrir os crimes ambientais cometidos pelo governo Bolsonaro como o sucateamento das instituições de fiscalização ambiental.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Fotos Públicas