Ex-secretário ambiental do Amazonas alerta para invasores na BR-319

“O que está acontecendo nessa região é uma tragédia que se previa”, alertou o ex-secretário ao site Mongabay

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 17/08/2021 às 16:57 | Atualizado em: 17/08/2021 às 17:50

O superintendente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), Virgilio Viana, ex-secretário de Meio Ambiente do Amazonas, diz que a perspectiva de asfaltamento da BR-319 tem provocado invasões de forasteiros no extremo sul do estado.

No local, as pastagens estão tomando conta do cenário onde antes prevalecia floresta virgem. “O que está acontecendo nessa região é uma tragédia que se previa”, alertou o ex-secretário ao site Mongabay, especializado em notícias ambientais.

De acordo com ele, a situação pode ser pior caso seja concretizado o projeto. “Não é uma surpresa. Há anos que estamos alertando sobre isso. E assim que a BR-319 for pavimentada, as invasões vão explodir”, previu.

Por conta dos problemas ambientais, Viana foi defensor da criação de uma ferrovia no lugar da estrada.

“Temos o mal hábito no Brasil de investir somente em rodovias e isso é um equívoco, uma estupidez. Investimos muito pouco em navegação de cabotagem, seja navegação litorânea ou a navegação no interior da Amazônia, e menos ainda em ferrovias”, disse o ex-secretário em 2008.

Ao Mongabay, a chefe de ciência da WWF Brasil, Mariana Napolitano, alertou para o crescimento do desmatamento nos municípios amazonenses de Lábrea, Humaitá, Canutama e Tapuá por conta da BR-319.

Neles, próximos a fronteira com Rondônia, a floresta está dando lugar à “extração ilegal de madeira, seguida de corte e queima de pastagens e, eventualmente, a chegada da monocultura.”

Desmatamento

De acordo com o levantamento da WWF, os municípios registraram juntos cerca de 330 mil alertas de perda de cobertura florestal até agora este ano, de acordo com dados de satélite da Universidade de Maryland visualizados no Global Forest Watch.

Trata-se de aumento de 14% em relação ao mesmo período em 2020. Dados do Imazon indicam que o desmatamento subiu 51% em 11 meses, com 838 mil hectares de terra desmatados desde agosto passado.

Os ambientalistas acusam o aumento das invasões em áreas públicas e das comunidades tradicionais e indígenas que dependem da floresta para sua sobrevivência.

“A rodovia corta cerca de 13 municípios que abrigam 41 unidades de conservação e 69 reservas indígenas. A área também abrange territórios que ainda aguardam demarcação, bem como locais que abrigam povos indígenas afastados que vivem em isolamento voluntário do mundo exterior.”

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Foto: Divulgação/FAS