Pessoas que se autodenominaram líderes da invasão Monte Horebe podem estar, de fato, a serviço de facções criminosas . E são esses grupos, ligados ao tráfico de drogas no Amazonas, que controlariam o lugar.
É o que relevam investigações dos serviços de inteligência das forças de segurança do estado, às quais o BNC Amazonas teve acesso.
De acordo com o levantamento prévio à operação que será desencadeada nesta segunda, dia 2, alguns desses prepostos do crime também se anunciam pastores religiosos.
Além disso, tais líderes são os mesmos que comercializam lotes de terras na invasão para traficantes.
Como resultado dessa invasão, que já avança para a maior reserva florestal de Manaus, a Adolpho Ducke, na zona norte, 90% dos barracos estão vazios. Isso ocorre porque, segundo a inteligência, eles são usados para outra prática criminosa: a especulação financeira da terra.
Exatamente porque, para o comando do tráfico de drogas e das facções, esse fato tem pouca importância.
Segundo apurou o sistema de segurança pública, o objetivo dos criminosos é instalar milícias na Monte Horebe. Por exemplo, hoje cada lote representa uma taxa mensal de R$ 40 que os milicianos recolhem dos moradores.
E não é uma contribuição voluntária, mas um valor que são obrigados a pagar às facções se quiser morar no local.
De acordo com as investigações, o dinheiro ilegal financia a compra de armas. Servem ainda para o pagamento de defesa jurídica dos líderes da invasão, hoje a maior da capital.
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Reação
Como resultado da ação do Estado para o combate à ação criminosa, frentes conservadoras se levantam para defender a invasão.
Desde sexta, quando o governo anunciou a operação de reintegração da área, esses líderes articularam protestos.
Primeiro, no residencial Viver Melhor, etapas 1 e 2, vizinho que mais sofre as ações de terror dos traficantes da Monte Horebe. São inúmeros os crimes cometidos na região. Começaram com a devastação ambiental da área verde e igarapé que cerca o conjunto habitacional.
Depois de sexta, os protestos continuaram neste final de semana. Já no sábado esses líderes negaram ajuda do governo para que o morador fizesse sua mudança da invasão. E também recusaram a assistência social para as famílias.
Mas, não a ação dos líderes da invasão não pararam por aí. Familiares de invasores disseram ao BNC Amazonas que pastores religiosos pediram orações porque a ordem das facções é que ninguém saia da invasão, e resista à ação institucional.
Um dos líderes identificados pela inteligência a comandar ações reativas é Rosenildo Taveira da Silva. Ele seria um dos que se apresentam como “pastor evangélico”.
Mas, para as apurações policiais, Silva é tem histórico de estelionato. Entretanto, conforme pesquisa do site no Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM), esse nome não aparece respondendo a nenhum processo.
Há, sim, um boletim de ocorrência policial (13.E.0151.0001151) contra o “pastor” registrada em 1º de março de 2013. Trata-se de um caso em que Silva é acusado de enganar a proprietária de terreno em revenda do imóvel. Segundo a denunciante, ele recebeu o dinheiro, mas não lhe repassou.
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Terror na invasão
Desde 2015, quando a Monte Horebe começou a existir, forças policiais fazem operações contra o tráfico de drogas no local.
Foram, segundo o governo, dezenas de operações nos últimos anos. Como resultado da presença criminosa na invasão, até cemitério clandestino já foi encontrado. Lá eram “desovados” os corpos de vítimas das fações.
Ainda como consequência do comando criminoso que prevalece na Monte Horebe, a polícia encontrou o lugar conhecido pelas facções como “tribunal do crime”.
É a esse local que as vítimas dos traficantes são levadas para receber a sentença: morte.
Uma vítima desse “tribunal” foi o adolescente Elias Emanuel Alves Aquino, de apenas 15 anos.
Seu corpo foi encontrado na Monte Horebe um dia antes do vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida (PRTB), anunciar a reintegração da área.
Aquino foi morto a mando dos líderes do tráfico na invasão Monte Horebe. Foi o que confessou à polícia o assassino do adolescente.
De acordo com seu depoimento, a ordem recebida foi torturar, arrancar as orelhas e só depois matar o garoto. E depois, decapitar a vítima.
Assim foi feito.
Foto: Reprodução/Facebook