O jornal Folha de S. Paulo informou, nesta quarta-feira (24), que entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) solicitando que a Polícia Federal (PF) investigue ameaças a profissionais do veículo.
Após a publicação de reportagens investigativas sobre a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), a autora da matéria, jornalista Patrícia Campos Mello, recebeu centenas de intimidações e ofensas, sobretudo, via redes sociais.
Outros dois jornalistas que participaram da apuração da reportagem também vêm sofrendo ataques, acrescentou o jornal em comunicado.
O diretor do Instituto Datafolha , Mauro Paulino, foi alvo de ameaças por redes sociais e em sua casa.
A Folha disse ter identificado uma “ação orquestrada contra a liberdade de expressão”.
Segundo o jornal, os ataques se alastraram por grupos de apoio ao presidenciável do PSL no WhatsApp.
No dia 19 de outubro, a Folha publicou reportagem denunciando um esquema de compra de envio de mensagens em massa no aplicativo WhatsApp que seria bancado por empresários favoráveis a Bolsonaro, que nega qualquer envolvimento.
Os contratos chegariam até R$ 12 milhões.
Um dos executivos citados na reportagem, Luciano Hang , exigiu que a Folha apresente provas dos contratos, o que ainda não aconteceu.
A compra de mensagens pró-Bolsonaro no aplicativo de celular motivou ações junto ao TSE, que investiga o caso com apoio da Polícia Federal (PF), mas um dos ministros negou investigação .
Por causa da abertura dessas investigações, a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, e outros ministros foram ontem (23) ameaçados e xingados em vídeo divulgado nas redes sociais.
O autor do vídeo, coronel da reserva Carlos Alves, já é alvo de inquérito da PF, aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), após receber solicitação do próprio Supremo Tribunal Federal (STF).
O Ministério do Exército também condenou as declarações do coronel da reserva e afirmou que ele não representa as posições da Força, além de informar que sua conduta já é alvo de apuração na esfera militar.
Desafio a jornalistas
A autora da reportagem sobre o disparo em massa de mensagens pró-Bolsonaro, Patrícia Campos Mello, teve sua conta de WhatsApp invadida.
Os hackers enviaram mensagens a favor do candidato do PSL para contatos armazenados.
Além disso, ela recebeu ameaças por telefone de números desconhecidos.
Ainda de acordo com a Folha, circularam imagens entre grupos de apoiadores de Bolsonaro incitando eleitores a confrontar a jornalista em uma palestra marcada para o dia 29, além de uma montagem onde ela apareceria abraçada ao candidato do PT, Fernando Haddad.
Patrícia Campos Mello teve de fechar sua conta no Twitter – passando a permitir apenas interação com seguidores autorizados..
No domingo (21), o candidato Jair Bolsonaro (PSL) afirmou a seus seguidores que “a Folha de S. Paulo é o maior fake news do Brasil, imprensa vendida”.
O candidato criticou o jornal diversas vezes em razão desta e de outras reportagens as quais Bolsonaro considera mentiras.
Em entrevista à Rádio Justiça, a advogada do PSL, Karina Kufa, afirmou que a denúncia não tem base documental e que qualquer caso de apoio espontâneo não teve anuência do candidato.
Repercussão
A Federação Nacional dos Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo emitiram nota na semana passada em que condenaram os ataques a Patrícia Campos Mello e a outros profissionais do jornal.
“Avessos ao debate e à crítica pública, essenciais numa sociedade democrática, os agressores querem sufocar a liberdade de imprensa e calar qualquer voz que levante questionamentos dirigidos a seu candidato. É a própria democracia que está sendo atingida quando a repórter é atacada”, diz o texto.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo também se manifestou em favor da profissional, reconhecida pela sua experiência e contribuição para a imprensa brasileira.
“Retaliar jornalistas em função de sua atividade profissional não atinge apenas o(a) comunicador(a) em questão; traz prejuízos à sociedade como um todo, inclusive aos que praticam os ataques”, pontua a associação.
No início do mês, a Abraji divulgou levantamento em que identificou pelo menos 130 agressões a profissionais de imprensa cobrindo eleições.
Foram 75 ataques por meios digitais, como redes sociais, e 62 físicos.
A Agência Brasil entrou em contato com a Polícia Federal para obter informações sobre o pedido do jornal e aguarda retorno.
O TSE informou que a denúncia da Folha tramita em sigilo.
Foto: Reprodução/Portal dos Jornalistas