O hacker Walter Delgatti, conhecido por desencadear o caso “Vaza-Jato,” afirmou perante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava ciente e solicitou que ele emitisse um mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, através do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Delgatti, atualmente detido em um presídio em Araraquara, São Paulo, prestou seu depoimento por videoconferência. Quando questionado sobre o plano de desacreditar o sistema judicial, emitindo um mandado de prisão contra Moraes no CNJ, o hacker alegou que Bolsonaro estava de acordo o tempo todo. Ele declarou: “Bolsonaro estava ciente disso, tanto que ele solicitou esse feito.”
Antes de iniciar a sessão, Delgatti solicitou que seus agentes prisionais removessem suas algemas, enfatizando sua impossibilidade de fuga enquanto estava sob custódia. Ele também mencionou que a deputada federal Carla Zambelli o havia contratado para realizar esse serviço, recebendo um total de R$ 40 mil.
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Ele esclareceu que o acordo original era por um emprego, não pelos valores, e que os fundos foram enviados como ajuda de custo. No entanto, ele ainda não recebeu o emprego prometido, apenas sua prisão.
Delgatti prosseguiu explicando que a ideia de emitir o mandado de prisão contra Moraes surgiu porque Zambelli e Bolsonaro desejavam destacar as vulnerabilidades do sistema. Ele afirmou que a sugestão foi sua e que tinha provas disso.
Delgatti foi preso em 2 de agosto como parte da investigação que apura a inserção de alvarás de soltura e mandados de prisão falsos no sistema do CNJ, incluindo um mandado de prisão falso contra Moraes.
Condenado
A Justiça Federal condenou ontem (21) o hacker Walter Delgatti a 20 anos de prisão no processo da Operação Spoofing, deflagrada pela Polícia Federal em 2019.
Assim, a sentença foi proferida pelo juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal em Brasília. Cabe recurso contra a decisão.
Conforme a Agência Brasil, Delgatti foi preso em 2019 por suspeita de invadir contas de autoridades no Telegram. Por exemplo, de integrantes da força-tarefa da Lava Jato, como o ex-procurador Deltan Dallagnol.
Além de Delgatti, mais seis acusados também foram condenados pelas invasões de celulares.
Além dos ex-procuradores da Lava Jato, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, o ex-ministro da Economia Paulo Guedes e conselheiros do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) também tiveram mensagens acessadas ilegalmente.
Na decisão, o juiz disse que Delgatti tinha a intenção de vender as conversas hackeadas da Lava Jato por R$ 200 mil à imprensa.
Nesse sentido, ele também rebateu declarações do hacker, que, durante as investigações, declarou que violou as conversas para “combater injustiças” que teriam sido cometidas durante a operação.
“Só após perceber a resistência de jornalistas a pagarem para ter acesso a este material é que houve um esfriamento inicial no ânimo de Walter de obter numerário pela troca do material”, escreveu o juiz.
Ao mesmo tempo, a sentença diz que Walter Delgatti obtinha dados bancários de diversas vítimas e comercializava as informações obtidas em chats especializados em crimes.
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Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados