Impeachment anunciado por Josué Neto nem tem processo pronto

Deputado anunciou uma coisa e assinou outra, com irregularidades

Impeachment

Neuton Correa,

Da Redação do BNC Amazonas

Publicado em: 30/04/2020 às 22:56 | Atualizado em: 30/04/2020 às 22:56

A pressa do presidente da Assembleia Legislativa (ALE-AM), Josué Neto (PRTB), em ver cassado o mandato do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e seu vice, Carlos Almeida (PTB), para assim assumir a chefia do poder Executivo, acabou provocando um desastre processual.

É que o documento da sua decisão de dar a largada ao impeachment, ao invés de abrir o processo, apenas dá prazo. E esse prazo, portanto, é para que os autores da proposta emendem a denúncia que formalizaram.

Conforme anunciado por Josué Neto, a denúncia é a que foi apresentada pelos médicos Patrícia Del Pilar Sicchar e Mário Macedo Vianna. Este é o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas (Simeam).

Dessa maneira, o próprio documento assinado pelo deputado aponta que os denunciantes não cumpriram dois requisitos legais.

“Volvendo-me para as exigências do art. 76 da Lei Federal 1.079/1950, verifica-se que dois requisitos não estão atendidos na denúncia sob análise, a saber, o reconhecimento da firma dos autores e a ausência do rol de testemunhas, que deve ser no mínimo de 5”.

 

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Vista grossa à lei

Assim sendo, Josué Neto autorizou o início do processo de impeachment apesar das irregularidades que ele mesmo apontou.

Ele fez o anúncio do ato nesta quinta-feira (30), desta forma:

“Refleti muito sobre essa minha decisão e quero dizer que no momento que nós vivemos a maior tragédia humanitária da história do nosso estado, não poderia ser outra atitude de quem estivesse sentado nesta cadeira se não fosse a da mais absoluta imparcialidade. E a única forma de eu demonstrar imparcialidade é não favorecendo, nem desfavorecendo quem quer que seja politicamente”.

Além do comunicado oficial, o deputado usou redes sociais para propagandear sua atitude.

 

 

Síntese 

Como resultado de não ter observado as irregularidades na denúncia, Josué Neto não abriu o processo de impeachment, como alardeou. Apenas deu cinco dias de prazo para os autores do pedido fazerem emendas.

“Todavia, por serem aspectos meramente formais, embora imprescindíveis para o salutar processamento do feito, entendo que os autores devem ser notificados para emendar a inicial e suprir essas exigências legais”, escreveu.

E concluiu seu despacho assim, reafirmando a abertura da contagem de prazo para correção das irregularidades:

“Pelo exposto, determino com base no art. 79 da Lei 1.079/1950 c/c art. 569 do CPP, bem como o devido processo legal e a boa – fé processual, a notificação dos  autores da denúncia para procederem a emenda a inicial no prazo de 5 (cinco) dias, o disposto no art. art. 76 da Lei 1.079/1950, reconhecendo as respectivas firmas, apresentação do rol de testemunhas se houver e a certidão de regularidade eleitoral, sob pena de indeferimento da inicial e sua inépcia”.

Juristas ouvidos pelo BNC Amazonas consideraram a falha um erro monstruoso, “teratológico”, conforme a linguagem jurídica.

 

 

Leia o documento, na íntegra

 

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Criador de crises

Convertido ao bolsonarismo em 2019, após ser isolado politicamente, Josué Neto identificou-se com Carlos Bolsonaro. Trata-se do filho vereador do presidente da República, Jair Bolsonaro, cuja principal missão é criar crises.

Por simetria, o deputado escolheu o período mais dramático da história recente do Amazonas para também provocar crises.

Porque foi frustrado na expectativa de assumir o governo com possível cassação da chapa Wilson-Almeida, ele passou a criar instabilidades.

Por exemplo, é suspeito de estar por trás de movimento, já frustrado, que pedia, em atos públicos, o impeachment do governador.

Depois disso, pediu intervenção federal na saúde pública ao mesmo tempo em que é omisso em relação ao governo federal. Essa omissão se revela ao não cobrar de Bolsonaro ajuda ao Amazonas contra o avanço do coronavírus (covid-19), que ceifa dezenas de vidas a cada dia.

 

Foto: BNC Amazonas