Indigenistas alertam que está em curso genocídio de índios isolados

Isolados do Xinane

Neuton Correa

Publicado em: 07/10/2019 às 18:53 | Atualizado em: 07/10/2019 às 19:57

Por Iram Alfaia, de Brasília

 

A demissão na última sexta-feira, dia 4, do coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém-Contatados da Fundação Nacional do Índio (Funai), Bruno Pereira, fizeram indigenistas, sertanistas e ex-coordenadores da área no órgão chamar atenção para o crime de genocídio em curso.

Os motivos são os frequentes cortes e contingenciamentos impostos a Coordenação-Geral de Índios Isolados e a demissão de Bruno Pereira.

Eles advertem ainda que possíveis interferências ideológicas como as que estão presenciando nos quadros técnicos da Funai, em especial, da coordenação geral é da maior gravidade.

“Sendo assim, e por tudo aqui exposto é que nós, ex-Coordenadores Gerais, Sertanistas e Indigenistas que atuamos na política de proteção aos povos isolados, conclamaremos à sociedade nacional a reagir e denunciar em cortes internacionais essa nítida tentativa de desconstrução da política brasileira de defesa e promoção e proteção dos direitos de povos indígenas isolados e de recente contato”, dizem em carta à sociedade.

No cargo há 14 meses, Bruno Pereira, que é concursado da Funai, teria sido afastado da função por exigência dos ruralistas que emplacaram na presidência do órgão, Marcelo Augusto Xavier da Silva.

O novo presidente, que tomou posse no fim de julho deste ano, está trocando os cargos nas diretorias e coordenações da fundação.

Em abril desde ano, Bruno Pereira foi responsável pela maior expedição das últimas décadas para entrar em contato com um grupo de índios Korubo, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari, que permanecia totalmente isolado.

Segundo assessoria de imprensa na época, a expedição tinha dois objetivos: reaproximar parentes que se afastaram em 2015 e, também, evitar novos conflitos entre eles e os Matis, outra etnia indígena da região, pelas terras próximas ao rio Coari.

Por causa desse risco, a fundação abriu mão da política de “zero contato” com índios isolados, que vinha sendo adotada desde 1987.

Na carta, os indigenistas alertam que são povos que possuem uma correlação e dependência física e sócio cultural em relação a seus territórios ancestrais.

“Assim sendo, qualquer prática de destruição ou degradação ambiental desses territórios deve ser tratada como uma tentativa de genocídio, pois, como dito, esses povos dependem exclusivamente dos recursos naturais ali existentes”, explicam.

Por isso, a coordenação em questão deve ser realizada por um quadro especializado, capaz de gerir políticas específicas de prevenção e proteção contra ações que resultem em maior vulnerabilidade a esses povos.

“Nesse sentido, repudiamos a exoneração do servidor em questão, pois trata-se de um servidor da casa, plenamente qualificado para as funções que exercia, tanto em gestão administrativa quanto em atividades finalísticas. Em nosso entendimento, tal exoneração representa mais um passo para um retrocesso histórico da política pública para proteção dos povos indígenas isolados”, dizem.

Subscrevem:

Ângela Kaxuyana

Antenor Vaz

Ariovaldo José dos Santos

Armando Soares Filho

Beto Marubo

Carlos Travassos

Douglas Rodrigues

Douglas Rodrigues

Elias dos Santos Bigio

Fabrício Amorim

José Carlos dos Reis Meirelles

Leonardo Lenin Covezzi Val dos Santos

Lucas Infantozzi Albertoni

Marcelo Santos

Odenir Pinto de Oliveira

 

Foto: CGIIRC/Funai/www.funai.gov.br