Lewandowski ameaça denunciar desvio de poder no Supremo

Publicado em: 03/10/2018 às 20:06 | Atualizado em: 03/10/2018 às 20:06
Na guerra de liminares por autorização de entrevistas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro do Supremo Tribunal Federal (ATF), ministro Ricardo Lewandowski, ameaçou denunciar desvio de poder que tomou conta do STF, caso a decisão fosse levada para o plenário decidir.
Lewandowski fez a ameaça ao presidente da corte, ministro Dias Toffoli, quando este prometeu levar o pedido de entrevistas de Lula para julgamento no plenário, conforme escreveu a repórter Carolina Brígido para a revista Época.
Eram cerca de 11h da segunda-feira, 1º de outubro, quando os ministros Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski se encontraram no auditório da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).
Toffoli tinha acabado de proferir uma palestra sobre o 30º aniversário da Constituição Federal.
Encontrou-se em uma pequena sala atrás do auditório com Lewandowski, que também palestraria no evento.
O cenário traz alegria para ambos: Toffoli, por ter cursado Direito na instituição; Lewandowski, por ser professor no local.
Mas a conversa entre os dois não foi nem um pouco amigável.
Toffoli tentou se antecipar e se dirigiu a Lewandowski para lamentar a guerra de liminares ocorrida na sexta-feira na mais alta corte do país.
Lewandowski tinha dado autorização para o jornal Folha de S. Paulo entrevistar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Horas depois, o Partido Novo entrou com pedido de suspensão de liminar, atendido por Luiz Fux, que proibiu a entrevista.
Toffoli disse a Lewandowski que levaria o caso ao plenário da corte ainda naquela semana, para “resolver a situação”.
Foi quando o sangue de Lewandowski subiu. Com o rosto vermelho, disse a Toffoli que, se o caso fosse levado ao plenário, ele denunciaria o desvio de poder que tomou conta do STF.
“Passe bem!”
Lewandowski recomendou ao colega que “pensasse bem” antes de levar o processo a julgamento, porque ele não ficaria calado.
E, depois de falar bastante, deixaria o plenário sem participar da votação.
Toffoli, que tomou posse como presidente do tribunal no último dia 13 pedindo calma aos colegas, viu que não conseguiria apagar o novo incêndio em plenário.
Ficou de pensar em outra solução para o impasse e, depois, falar com Lewandowski.
Os dois conversaram por menos de dez minutos.
Lewandowski ainda estava com o semblante transtornado quando deixou a sala.
No mesmo encontro, Lewandowski disse a Toffoli que naquela mesma segunda-feira daria uma nova decisão e reafirmaria a autorização para o jornal entrevistar Lula imediatamente.
Foi para o almoço pensando nas palavras que usaria no despacho.
Depois de comer, escreveu a decisão com a ajuda de assessores.
O pacificador
A bandeira de Toffoli à frente do STF era justamente pacificar o tribunal – especialmente durante as eleições, para não inflamar ainda mais os ânimos no país. Chegou a negociar uma trégua entre Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, dois frequentes protagonistas de discussões na corte. Embora ambos tivessem se comprometido com o acordo de não provocação mútua, a paz durou pouco: em entrevista à Folha de S. Paulo publicada em 31 de agosto, Barroso disse que, no STF, “tem gabinete distribuindo senha para soltar corrupto”.
Foto: SCO/STF