Sem crédito, líder de Bolsonaro tenta dialogar em vão sobre ZFM
No final, Ricardo Barros confessou que estava no local como deputado do Paraná, onde se encontra a sede da Afebras, inimiga da ZFM

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília
Publicado em: 11/05/2022 às 16:58 | Atualizado em: 11/05/2022 às 16:58
O líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (Progressistas-PR), não causou boa impressão ao participar, nesta quarta-feira (11), na sala de colégio de líderes da casa, de uma reunião convocada pelo deputado federal Marcelo Ramos (PSD-AM), que exercia a presidência daquele poder.
O encontro serviu para mobilizar a bancada, empresários, representantes de instituições e deputados de outros estados em apoio a liminar concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes a favor da Zona Franca de Manaus (ZFM).
Nela, o ministro deixou de fora os produtos fabricados na ZFM, que possuem o chamado Processo Produtivo Básico (PPB), dos efeitos dos decretos do governo de Jair Bolsonaro que ampliaram a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para 35%.
No Amazonas, as indústrias possuem isenção do imposto. A decisão de Moraes ainda tornou sem efeito outro decreto que zerou a alíquota do mesmo tributo para as indústrias de concentrados de refrigerantes, que só existe no Amazonas.
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Na reunião, Ricardo Barros defendeu diálogo e revelou incompreensões sobre a Zona Franca. O líder do governo afirmou que a equipe econômica está disposta a discutir alterações no decreto do presidente, mas reforçou que o objetivo era combater a inflação e reduzir os custos dos produtos para o consumidor.
“O Paulo Guedes (ministro da Economia) editou isso para baixar os preços. Tudo no Brasil é judicializado, não é surpresa. Mas o objetivo do governo, ao reduzir o imposto, é legítimo”, defendeu Barros.
Lobista
No final, o líder confessou que estava no local como deputado do Paraná, onde se encontra a sede da Associação de Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afebras).
A entidade, por exemplo, comemorou o decreto do governo que zerou o IPI para concentrados de refrigerante, medida prejudicial ao Amazonas.
“O decreto começa a trazer justiça tributária ao setor de bebidas. A partir de agora as indústrias nacionais podem concorrer em pé de igualdade com as multinacionais como Coca-Cola e Ambev em relação aos impostos federais”, diz a entidade em nota
O coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Brasileira de Bebidas, deputado Fausto Pinato (Progressistas-SP), que também participou do evento, defendeu o decreto do governo. “É legal e inteligente”, disse.
Sem crédito
Marcelo Ramos considerou a participação de Barros na reunião simbólica. “Lamentamos que essa disposição só aconteça quando nós conseguimos a liminar. Todos os canais estavam fechados. Como o jogo agora está um a zero pra nós, aí temos toda a disposição de diálogo. Mas nós não queremos esticar a corda”, disse o deputado.

Questionado sobre a presença do líder do governo na reunião, o senador Omar Aziz disse estar desacreditado com uma possível abertura de diálogo com o governo.
“Eu sempre acredito na boa fé das pessoas, mas acho que nós extrapolamos a conversa com Paulo Guedes. Ele mentiu pra gente e estou falando literalmente. Ele foi mentiroso. Afirmou pra mim e pra outros senadores do meu estado que iria excepcionalizar a Zona Franca. Com quem mente é impossível você ter relações”, criticou o senador.
Com informações da Agência Câmara
Fotos: Assessoria parlamentar