Presidente do STM minimiza áudios que comprovam tortura na ditadura
'Não estragou a Páscoa de ninguém', afirmou Luís Carlos Gomes de Mattos durante sessão do Superior Tribunal Militar

Mariane Veiga
Publicado em: 19/04/2022 às 18:07 | Atualizado em: 19/04/2022 às 18:23
O presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Luís Carlos Gomes de Mattos, desdenhou, em sessão do tribunal nesta terça-feira (19), da divulgação dos áudios dos anos 1970 de integrantes do próprio tribunal que comprovam a prática de tortura durante a ditadura militar.
Segundo ele, a divulgação dos áudios é “notícia tendenciosa” com o objetivo de “atingir as Forças Armadas”.
Os áudios foram revelados no último domingo (17), na coluna da jornalista Miriam Leitão no jornal “O Globo”. Foram resgatados pelo historiador Carlos Fico, titular de história do Brasil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
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O Superior Tribunal Militar passou a gravar as sessões a partir de 1975, mesmo as secretas. Até 1985, são 10 mil horas de material. Com autorização da Justiça, Carlos Fico conseguiu copiar todas as sessões das gravações, que estão sendo transcritas.
“Tivemos aí alguns comentários contra o nosso tribunal ou contra a Justiça Militar de maneira geral”, declarou nesta terça-feira o presidente do STM, para quem a intenção da divulgação é “atingir Forças Armadas, Exército, Marinha, Aeronáutica”.
Segundo ele, os ministros do Superior Tribunal Militar são “absolutamente transparentes” nos julgamentos.
“Não tenho resposta nenhuma para dar. Simplesmente, ignoramos uma notícia tendenciosa daquela que nós sabemos o motivo. Aconteceu durante a Páscoa. Garanto que não estragou a Páscoa de ninguém — porque a minha não estragou. Garanto que não estragou a Páscoa de nenhum de nós”, afirmou.
Gomes de Mattos se disse “incomodado” porque, na interpretação dele, do passado, “só varrem um lado, não varrem o outro”.
“Apenas a gente fica incomodado que vira e mexe vem porque não têm nada para buscar. Hoje, vão rebuscar o passado. Agora, só varrem um lado, não varrem o outro. É sempre assim, já estamos acostumados com isso. Deixa para lá”, declarou.
Para o presidente, as informações reveladas nos áudios são “besteiras” e “idiotices” para as quais, segundo ele, não devem ser dadas respostas.
“Nós temos a credibilidade do nosso povo e isso aí é o mais importante. Às vezes dói, viu? Às vezes, dá vontade de você responder, sacudir, mostrar. Não adianta. Você vai sacudir, não vai adiantar nada, porque não muda. Passam-se os anos e a pessoa diz a mesma coisa, as mesmas besteiras, as mesmas idiotices. E nós vamos ficar respondendo? Não, na minha opinião”, disse.
Nos áudios, um general defende, por exemplo, a apuração do caso de uma grávida de três meses que sofreu aborto após choques elétricos na genitália.
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Foto: Divulgação/STM