A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) , do Senado, realizou nesta terça-feira (28) audiência pública para obter informações sobre a dívida no balanço das Lojas Americanas. A CAE apura indícios de fraude em uma auditoria realizada por consultoria independente, que teria ‘maquiado’ um rombo de R$ 48 bilhões nas finanças da rede varejista.
Alvo também de pedido de abertura de CPI na Câmara dos Deputados, a empresa Lojas Americanas entrou com pedido de recuperação judicial em janeiro deste ano.
Isso ocorreu após relatórios apontarem uma série de inconsistências no balanço contábil do grupo. Foi revelado posteriormente um rombo estimado em quase R$ 50 bilhões, além do prejuízo para mais de 15 mil credores e fornecedores da empresa.
Como não tem poder para convocar os envolvidos, a comissão convidou o atual e ex-diretor das Americanas, além de representantes da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e da PricewaterhouseCoopers (PwC), a empresa responsável pela auditoria no grupo e que não compareceu à audiência.
Durante a reunião, o líder da bancada do Amazonas, no Congresso Nacional, Omar Aziz (PSD), defendeu que o Senado precisa ser mais rigoroso para evitar casos semelhantes no futuro.
Pequenas e médias empresas
Para Aziz, a situação é preocupante, pois, chama atenção para outros casos em que médias e pequenas empresas podem sair prejudicadas por uma auditoria maquiada que não condiz com a realidade.
Nós temos que ser mais rigorosos com esse tipo de atitude de algumas empresas até porque a Price trabalha para governos estaduais. As empresas que estão na bolsa de valores e quem têm ações delas devem se preocupar muito se por trás dessas empresas estiver a Price como auditora .
Para o senador do Amazonas, essa é uma questão séria por conta do efeito.
Se ela maquiou ou deixou maquiar as empresas Americanas pode ter acontecido com outras empresas para as quais ela faz auditoria no Brasil. A Comissão de Valores Mobiliários tem que tomar alguma providência .
Maior fraude corporativa
Já o senador Eduardo Braga (MDB), classificou o caso como “a maior fraude corporativa que se tem notícia no Brasil”.
O parlamentar criticou a atuação da PwC, cobrou a punição dos responsáveis e defendeu o pagamento preferencial dos pequenos credores das Americanas, antes do processo de recuperação judicial.
É uma das maiores fraudes corporativas do mundo e não pode ser tratada como pouca coisa. Espero que as Americanas possam dar uma resposta à altura do tamanho da fraude. É preciso esclarecer as razões de uma fraude gigantesca, criminosa. Os acionistas de referência deveriam depositar em juízo o valor equivalente aos micro e pequenos credores e pedir em juízo que fossem liberados esses recursos. O que está aqui em jogo é a reputação .
Dívida grandiosa
O atual diretor-executivo das Americanas, Leonardo Pereira, reconheceu que a dívida “é bastante grande”. Mas, disse que a intenção inicial era pagar os débitos com pequenos credores.
Dos 9,5 mil credores incluídos no plano de recuperação judicial, 4,5 mil são trabalhadores da empresa ou micro e pequenas empresas.
A gente tentou retirar aqueles credores menores, que são muito machucados nesse processo. A companhia começou a pagar. Mas veio o recurso de um banco, pedindo para suspender os pagamentos. De R$ 240 milhões, a gente pagou R$ 120 milhões para esses credores .
Ainda na CAE, o ex-diretor executivo das Americanas Sérgio Rial, que expôs o rombo da varejista, criticou a falta de informações da empresa a respeito dos resultados de 2022, já que não houve publicação do desempenho do quarto trimestre do ano passado.
“Não sabemos até hoje o resultado de 2022. O resultado do quarto trimestre não foi publicado”.
Aos senadores, ele relatou o processo em que foi convidado para assumir o comando da empresa e como detectou as dívidas bilionárias.
Quando percebeu que as dívidas bancárias não estavam reportadas no espaço correto nos balanços, acelerou o processo para verificar onde estava indicado esse montante.
Sanções administrativas
Autor do pedido de audiência pública, o senador Otto Alencar (PSD-BA) informou que já encaminhou um projeto para que auditores independentes possam sofrer sanções administrativas ou penais caso seja constatada negligência ou imperícia no exercício das suas funções.
Auditar uma empresa e deixar chegar a essa situação de só tomar conhecimento depois de um rombo de R$ 48 bilhões, essa empresa não merece, sinceramente, confiança de quem deseja ter uma auditoria independente correta no âmbito das suas empresas , explicou Alencar.
O presidente da CAE, senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), classificou como “inadmissível” a PwC “não perceber um rombo como esse”.
O parlamentar também demonstrou “estranheza” com o fato de os acionistas de referência das Americanas, donos da holding 3G Capital — os empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira — ainda não terem honrado os compromissos das Americanas com os credores, especialmente, os menores.
Com informações da Agência Senado.
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