STF tira chance de esclarecer fatos com silêncio de Pazuello, diz Omar

Senadores da CPI consideram o depoimento de Pazuello central, pois foi durante a gestão dele que se iniciou o desastre da segunda onda a partir de Manaus e o registro do maior número de mortes por causa do coronavírus

STF tira chance de esclarecer fatos com silêncio de Pazuello, diz Omar

Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 14/05/2021 às 19:07 | Atualizado em: 14/05/2021 às 19:19

O presidente da CPI da covid no Senado, Omar Aziz (PSD), criticou a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), que concedeu habeas corpus, nesta sexta-feira (14), favorável ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.

No depoimento marcado para a próxima quarta-feira (19), o ministro do STF garantiu a Pazuello o direito de permanecer calado na CPI da covid sempre que entender que não precisa responder a perguntas dos senadores.

“É uma pena. O Supremo que ordenou que o Senado abrisse a CPI é o mesmo que tira a oportunidade de um ex-ministro da Saúde esclarecer os fatos. E justamente o que mais tempo ficou no Ministério da Saúde durante a pandemia, que poderia ter ordenado a compra de vacinas”, criticou.

O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), espera que o ex-ministro “tenha ciência de que seu depoimento não é o único meio para elucidar a tragédia no país”.

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“O senhor Eduardo Pazuello lamentavelmente se esconde atrás de um habeas corpus. Respeitaremos o seu direto. Agora, ele tenha a certeza de que não será somente o seu depoimento o meio que buscaremos para obter a verdade. É a mínima satisfação que podemos dar as mais de 420 mil famílias brasileiras que estão despedaçadas pelo coronavírus”, afirmou.

Investigado

Após o pedido ao STF feito pelo ex-ministro da Saúde, Randolfe informou que a direção dos trabalhos da comissão quer mudar o status de Pazuello de testemunha para investigado.

“O senhor Eduardo Pazuello é convidado como testemunha, não como indiciado. É um caso sui generis, em que uma testemunha pede para ser tratada como indiciado”, disse.

 Randolfe diz que a atitude do ex-ministro acaba criando provas contra ele. “Melhor seria se ele viesse à CPI tranquilamente e aqui prestar seu depoimento e as informações que são devidas à CPI”.

Depoimento central

Randolfe considerava o depoimento de Pazuello central, pois foi durante a gestão dele que se iniciou o desastre da segunda onda a partir de Manaus e o registro do maior número de mortes por causa do coronavírus.

Além disso, foi na gestão dele que faltou oxigênio na rede hospitalar de Manaus, um dos fatos determinados na CPI.

O vice-presidente do colegiado alertou que, no caso do ex-ministro permanecer em silêncio, os senadores vão buscar a verdade com outros nomes da equipe de Pazuello. O depoimento de Mayara Pinheiro, que era assessora dele no ministério, já está marcado para o dia 20.

Conhecida como Capitã Cloroquina, ela pressionou profissionais das UBSs em Manaus a recomendarem o uso do tratamento precoce com medicação sem eficácia cientifica comprovada no tratamento da covid-19.

Depoimentos

O vice-presidente da CPI avaliou como positivo os últimos depoimentos na CPI que já indicaram dois resultados importantes: a existência de um comando paralelo ao Ministério da Saúde tomando decisões sobre o combate à pandemia e a omissão do governo Bolsonaro diante das ofertas de vacinas da Pfizer.

“O Brasil teria evitado pelo menos 5.000 mortes nos últimos meses caso o Governo tivesse aceitado a oferta de vacinas da Pfizer em agosto do ano passado. Foram pais, mães, avós, avôs, filhos e filhas que foram vítimas do descaso”, protestou.

Foto: Reprodução/TV