Primeiro capitalista a investir em repĂ³rter morre em Parintins
"Chagas gostava de me ver trabalhando como repĂ³rter e alugava suas bicicletas para me incentivar", conta Neuton CorrĂªa

Por Neuton CorrĂªa*
Publicado em: 19/08/2025 Ă s 13:52 | Atualizado em: 19/08/2025 Ă s 13:56
Quando iniciei minhas atividades como repĂ³rter, em novembro de 1988, eu saĂa fazendo reportagens de bicicleta. Usava uma bicicleta velha que eu havia recuperado de um quadro que estava abandonado no quintal de casa.
Antes de eu ser contratado na aĂ©rea, no dia 3 de novembro daquele ano, a bicicleta era sĂ³ uma forma de eu nĂ£o pegar a bike do meu pai. PorĂ©m, quando passei a trabalhar na rĂ¡dio Clube, a bicicleta velha virou meu meio de transporte.
O veĂculo, porĂ©m, nĂ£o tinha boa apresentaĂ§Ă£o, era uma espĂ©cie de improviso, um ferro velho pintado com com aqueles pulverizadores que a gente usava para matar carapanĂ£. A mamĂ£e chamava aquilo de fric-fric.
EntĂ£o, resolvi levar a bicicleta velha para oficina do Chagas. Ele era o mais famoso da minha rua, e fazia da pintura Ă venda de peças. Menos de uma semana depois, a bicicleta ficou pronta. E bonita, em nĂvel de repĂ³rter.
Mas, minha relaĂ§Ă£o com essa bicicleta nĂ£o demorou muito. Na minha primeira grande cobertura jornalĂstica, a apuraĂ§Ă£o das eleições municipais de 1988, a bicicleta foi roubada. Eu a deixei do lado do ginĂ¡sio de esportes onde acontecia a apuraĂ§Ă£o, de um local que eu pudesse estar vendo meu meio de transporte o tempo todo. O ladrĂ£o levou a melhor, a melhor bicicleta que eu havia conseguido montar atĂ© entĂ£o.
Evidentemente que fiquei triste, desolado. Contudo, o Chagas tambĂ©m alugava bicicleta e me cedeu uma por muito tempo. Ainda que eu nĂ£o tivesse dinheiro para pagar, ele nĂ£o se importava. Eu sentia que o Chagas gostava de me ver trabalhando como repĂ³rter e alugava suas bicicletas para me incentivar.
Hoje, assim que acordei, recebi uma mensagem do professor Manuel DiĂ³genes, que foi vizinho do Chagas e que hoje mora em Presidente Figueiredo. Ele me deu a notĂcia do falecimento do primeiro financiador da minha profissĂ£o.
VĂ¡ em paz, meu amigo e vizinho querido.
IlustraĂ§Ă£o: Gilmal