Bolsonaro imita ameaça de general e seus tanques na votação das ‘diretas já’
tentativa de demonstração de força de Bolsonaro faz lembrar o último ato público intimidatório da ditadura militar, tão cara ao presidente

Publicado em: 10/08/2021 às 09:09 | Atualizado em: 10/08/2021 às 09:09
O desfile de 150 carros blindados, aeronaves, lançadores de mísseis e foguetes marcado para está terça-feira (10), nas imediações do Palácio do Planalto, por ordem de Jair Bolsonaro não faz o menor sentido prático.
O presidente receberá um convite para presenciar uma operação da Marinha na semana que vem — bastaria um militar entregar o convite em seu gabinete, sem a fanfarra intimidatória que ocorrerá na Esplanada dos Ministérios justamente no dia em que a PEC do voto impresso será votada pelo Congresso.
A tentativa de demonstração de força de Bolsonaro faz lembrar o último ato público intimidatório da ditadura militar, tão cara ao presidente.
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Nem os blindados livrarão Bolsonaro do vexame do voto impresso
Foi em 23 de abril de 1984, dois dias antes da votação da Emenda Dante de Oliveira que, se aprovada, restabeleceria as eleições diretas para presidente.
O Comandante-Militar do Planalto, general Newton Cruz, desfilou pela Esplanada dos Ministérios montado num cavalo branco.
Chefiava um ameaçador comboio de seis mil militares e 116 tanques e carros de combate.
A emenda das Diretas-Já não passou. Mas nos anos seguintes a ditadura militar foi sendo enterrada sem glórias — só deixando saudade em tipos como Bolsonaro.
Nove meses depois, um civil de oposição foi eleito presidente, ainda indiretamente; e quatro anos depois, o Brasil tinha uma nova Constituição.
Orientação para os votos
Ao menos 12 partidos dos 24 com representação da Câmara dos Deputados já manifestaram posição contrária à aprovação da Proposta de Emenda à Constituição 135/2019, conhecida como PEC do voto impresso auditável. Cada partido tem sua orientação para a votação da matéria nesta terça-feira (10) no plenário da casa.
A proposta já foi rejeitada na comissão especial que a analisou inicialmente, e pode sofrer nova derrota no plenário da Câmara. A pauta foi incluída para ser analisada nesta terça-feira (10).
Defendida pelo presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, a proposta não tem adesão no Congresso, conforme reportagem do Estadão, republicada pelo portal R7.
Nesta segunda (9), o próprio Bolsonaro reconheceu que a provável rejeição do texto, ecoando entrevista concedida mais cedo pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL).
Depois de afirmar, no fim da semana passada, que a disputa em torno do voto impresso “já foi longe demais”, Lira reconheceu a tendência de rejeição e destacou ter o compromisso de Bolsonaro — com quem teria conversado na sexta-feira — de que o resultado da votação da PEC será aceito pelo presidente.
Leia mais no na coluna do Lauro Jardim no O Globo
Foto: montedo.com