Campanha de Carlos Bolsonaro abusou de posts pagos nas redes sociais

No ano passado, a principal despesa de campanha foi com o pagamento de 23 anĂºncios em sua pĂ¡gina no Facebook e no seu perfil no Instagram

Filhos Bolsonaro

Publicado em: 04/05/2021 Ă s 11:50 | Atualizado em: 04/05/2021 Ă s 11:53

A famĂ­lia Bolsonaro sempre negou acusações de uso de robĂ´s, do pagamento para disparos em massa e sempre fez questĂ£o de dizer que o engajamento de suas redes era orgĂ¢nico.

Em 2018, nem o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nem FlĂ¡vio Bolsonaro fizeram qualquer contrataĂ§Ă£o de anĂºncios pagos nas redes sociais.

As coisas mudaram.

No ano passado, a principal despesa de campanha de reeleiĂ§Ă£o do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi com o pagamento de 23 anĂºncios em sua pĂ¡gina no Facebook e no seu perfil no Instagram ao longo dos dois meses da campanha eleitoral.

Ao todo, foram 17 posts com impulsionamento em novembro e outros seis em outubro.

Do total, 14 posts foram impulsionados tanto no Facebook quanto no Instagram.

Outros sete sĂ³ ganharam incentivo financeiro no Facebook e dois foram pagos apenas no perfil de Carlos no Instagram.

Ele gastou R$ 39,5 mil com os anĂºncios e foi a sua maior despesa na campanha eleitoral.

Segundo suas declarações atualizadas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele gastou um total de R$ 76,5 mil.

Ou seja, os anĂºncios no Facebook representam 51,6% de suas despesas. Alguns desses dados, porĂ©m, sĂ³ apareceram na plataforma recentemente.

Procurado, o vereador nĂ£o retornou.

PĂ¡ginas derrubadas

No ano passado, meses antes da eleiĂ§Ă£o, o Facebook e o Instagram derrubaram pĂ¡ginas e perfis ligados Ă  famĂ­lia Bolsonaro alegando que as contas tinham comportamento inautĂªntico, ou seja, faziam uso de contas falsas e atuavam de maneira coordenada para engajar pĂºblico com informações falsas.

Em 2018, reportagem do jornal Folha de S. Paulo mostrou que a campanha de Bolsonaro fez disparo em massa de mensagens pelo Whatspp.

Dados levantados por Pedro Bruzzi, sĂ³cio da Arquimedes, consultoria de polĂ­tica e redes sociais, mostram que Carlos sofreu com uma baixa de interações em suas redes sociais, sobretudo no segundo semestre.

Por exemplo, no Facebook, ele teve uma queda acentuada nas interações. Ao todo, de julho a setembro, ocorreu uma reduĂ§Ă£o de 44,2% quando comparado com as interações do trimestre anterior, de abril a junho.

Ele volta a ter crescimento de interações no período de impulsionamento, mas um crescimento de apenas 11,6%.

O primeiro trimestre deste ano registra alguma recuperaĂ§Ă£o, especialmente no perfil do Instagram onde ele voltou a ter cerca de 7 milhões de interações. JĂ¡ no Facebook, o crescimento foi de 16,7%.

JĂ¡ no perfil de Carlos no Instagram, a queda foi maior.

Entre janeiro e março de 2020, Carlos tinha interações em um total de 9,8 milhões.

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JĂ¡ no Ăºltimo trimestre do ano passado, outubro a dezembro, as interações foram de 3,6 milhões.

Bruzzi acredita que os nĂºmeros estĂ£o relacionados ao estilo dos posts. No segundo semestre, tanto Carlos como Jair Bolsonaro fizeram muitas postagens divulgando ações do governo federal.

“Ele jĂ¡ entra no modo campanha, tentando mostrar que o governo (do pai) estĂ¡ trabalhando, mas hĂ¡ limite nessa narrativa”, explicou Bruzzi.

Apesar de se apresentar contra o isolamento social, Carlos Bolsonaro praticamente nĂ£o fez campanha de rua.

E, em determinado momento da campanha, em outubro, ele chegou a gravar um vĂ­deo pedindo doações e dizendo que a eleiĂ§Ă£o dele corria “risco”.

“Infelizmente, nĂ³s sĂ³ temos arrecadado atĂ© agora, por doações minhas e do meu pai, cerca de R$ 20 mil. Nossa eleiĂ§Ă£o corre risco. Se fosse possĂ­vel e fosse do desejo dos senhores que nos apoiassem fazendo a doaĂ§Ă£o do que for possĂ­vel dentro da realidade que todos nĂ³s estamos passando”, disse Carlos, em um vĂ­deo, ao pedir colaborações em uma vaquinha virtual.

AtĂ© lives sĂ£o impulsionadas

Entre os vĂ­deos impulsionados, Carlos optou por pelo menos trĂªs em que o presidente Jair Bolsonaro, seu pai, pedia votos para ele.

Em dois deles, os vĂ­deos eram de lives do presidente dentro do PalĂ¡cio da Alvorada pedindo votos para ele.

A coluna consultou o professor Marcelo Weick, coordenador-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e PolĂ­tico, sobre o impulsionamento.

Weick avalia que, como Carlos registrou os anĂºncios na plataforma, o candidato fez tudo correto.

No entanto, hĂ¡ discussĂ£o sobre o comportamento de Jair Bolsonaro, independente do impulsionamento.

“Se ele estĂ¡ fazendo o vĂ­deo isoladamente, ato de um apoiador, nĂ£o gera a chamada conduta vedada. VocĂª estĂ¡ gravando um depoimento de um apoiador. Mas a live (do presidente) Ă© um espaço de divulgaĂ§Ă£o das atividades governamentais. Ele estĂ¡ sempre com ministro do lado, com funcionĂ¡rio do governo de libras. Aquilo Ă© projetado em rĂ¡dios que sĂ£o pagas com dinheiro do governo e pode ter uma publicidade institucional. Quando altera a finalidade da promoĂ§Ă£o institucional e faz atuaĂ§Ă£o pessoal pode ser um desvio da finalidade da propaganda institucional”, explica Weick.

Para ele, um desvio de finalidade pode, eventualmente, gerar uma discussĂ£o sobre improbidade administrativa.

Ao final da campanha, ele foi reeleito, mas teve uma reduĂ§Ă£o de mais de 30% na sua votaĂ§Ă£o em comparaĂ§Ă£o com o ano de 2016.

Leia mais na coluna da Juliana Dal Piva no UOL

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