O paraibano Chico César, de 55 anos, lançou seu nono disco na semana passada e pisou fundo no acelerador da política tanto nas faixas quanto no discurso. Da “Pedrada” e “Eu Quero Quebrar” do álbum, ele recebeu também outras “pedradas” nas redes sociais ao defender a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seus direitos políticos restituídos, e a cassação do mandato do presidente Jair Bolsonaro. E sugeriu “fogo nos fascistas”. A reportagem está na Folha.
Segundo a matéria escrita pela jornalista Marcella Franco, a insurreição principal proposta pelo músico, no entanto, e que dá título ao álbum, vem de um caminho muito mais pacífico, e que permeia seus 25 anos de carreira: o afeto.
“O Amor É um Ato Revolucionário” pretende rebelar por meio da arte. “Os agentes da nossa época querem acabar com a dança, com o beijo e com a poesia. Então, quanto mais a gente dançar, beijar e fizer poesia, mais subversivo a gente vai ser. Se só ficar fazendo passeata pela dança, pelo beijo e pela poesia, é sinal de que eles ganharam”, diz o músico à Folha.
Mas quem são “eles”? “Esses que querem dizer como o amor deve ser. Doria , Crivella , Bolsonaro. Só que a sociedade avançou muito nos últimos tempos, e isso não vai acontecer. Os negros não aceitam voltar para a senzala, as mulheres não aceitam voltar para a cozinha e os gays não aceitam voltar para o armário”.
Para Chico, existem atualmente “muitas barreiras externas” que dificultam a criação. Mas, por considerar que é o papel do artista “procurar novas fronteiras”, debruçou-se sobre o papel logo após o lançamento do disco anterior, “Estado de Poesia”, em 2015, para construir o novo trabalho.
“Comecei a perceber muito antes do discurso de Bolsonaro louvando Ustra que a sociedade brasileira caminhava para um lugar muito escuro. A vida político-social do Brasil foi ficando nervosa, já havia a presença agressiva da bancada do boi, da bíblia e da bala querendo tomar o poder”, disse Chico à Folha.
“Eu já havia criticado o modo como o Partido dos Trabalhadores lidava com a natureza, mas tive um pressentimento de que o viria pela frente seria muito mais pesado”.
“Fogo nos fascistas”
Quando apresentou em seu perfil do Instagram uma prévia do reggae “Pedrada”, antes do lançamento do novo disco, Chico enfrentou ameaças de opositores. Com um refrão que incita “fogo nos fascistas”, a música teve uma repercussão rápida, conforme publicação da Folha.
Autor de sucessos como “À Primeira Vista” e “Pensar em Você”, Chico segue louvando o feminino em “O Amor É um Ato Revolucionário”. O novo disco traz homenagens às mulheres como “Mulhero”, “De Peito Aberto” e “Minha Morena”, escrita para sua companheira, a atriz Bárbara Santos.
Importantes tributos em uma época em que, mesmo com todos os progressos da luta feminista, segundo a Folha, a violência contra a mulher escala a níveis preocupantes.
“Quando um governo retira coisas que já havíamos conquistado, ele autoriza de certa forma atitudes mais selvagens e primitivas do macho. Quando você tem governantes que se referem à primeira-dama de um país como ‘feia’, e isso é corroborado pelo ministro da Economia que diz ‘é feia mesmo’, fica parecendo que um tipo de homem tem total liberdade para opinar a qualquer hora sobre como as mulheres devem ser.”
“Isso vai dando poder para que aquele sujeito que você acha que é normal possa exercer seu lado psicopata e matar uma namorada, a ex-esposa, a família inteira do namorado da filha porque não gosta dele”.
Chico define a sociedade atual como “precária”, do ponto de vista das relações, e “contraditória”, já que o momento é de mulheres na rua e no comando. “Não é à toa que atiraram na cara de Marielle”.
O cidadão
Chico se define como “um cidadão a mais, em um tempo de cidadania ameaçada”. Entende como solução a soltura de Lula, “com todos os seus direitos políticos restituídos”, a cassação de Jair Bolsonaro e a convocação de eleições diretas. “Os militares precisam sair dessa enrascada que este aventureiro os meteu”.
“Esperei muito uma manifestação republicana no segundo turno de Ciro, Marina, FHC, achei que todos iam marchar junto com Haddad. Mas decidiram não se misturar e esperar quatro anos. Por isso é importante que a sociedade civil marche junta, senão fica cada um defendendo a sua coisinha. A gente precisa ir de bolo, todo mundo junto. Dizer ‘vamos pelo amor’, e ir mesmo”.
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Fotos: José de Holanda/Divulgação