Coronavírus muda rotina, compromete a produção e já ameaça ZFM

Surto causou o cancelamento de viagens internacionais, a realização de reuniões por teleconferência e a adoção do home office para colaboradores

ZFM tem maior alta do Brasil na produção após três meses de queda

Neuto Segundo

Publicado em: 28/02/2020 às 13:17 | Atualizado em: 28/02/2020 às 13:17

A disseminação rápida do coronavírus pelo mundo já altera a rotina de empresas com operações globalizadas, em setores que vão de alimentos a energia, autopeças e eletrônicos.

Empresas que dependem de componentes chineses para montagem de celulares tiveram de paralisar linhas de montagem temporariamente em fevereiro.

A Samsung, maior produtora de smartphones do mundo, tem sua principal planta fora da Ásia na Zona Franca de Manaus  (ZFM) e, até o momento, a unidade de Manaus não paralisou atividades, mas está em alerta caso o surto não seja contido.

A empresa liberou os funcionários por cinco dias, mas explicou que foi por conta do período de carnaval.

 

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No entanto, a unidade de Campinas, que monta celulares, tablets e notebooks paralisou atividades entre os dias 12 e 14 deste mês por falta de peças, segundo o presidente do sindicato dos metalúrgicos de Campinas, Cidalino Orsi.

A Samsung informou que a unidade funciona normalmente.

Na Flextronics, que monta aparelhos da Motorola em Jaguariúna (SP), levou à paralisação das atividades por 15 dias na segunda metade deste mês, diz o sindicato dos metalúrgicos local.

Pelo menos 70% dos mais de 4 mil trabalhadores ficaram parados.

Segundo a entidade, a empresa comunicou nesta quinta-feira a parada por mais 15 dias.

Procurada, Motorola e Flextronics não comentaram.

As companhias que operam no Brasil optam pelo cancelamento de viagens internacionais, dão preferência a reuniões por teleconferência e adotam home office para colaboradores que estiveram em áreas afetadas, entre outras ações.

Alimentos

A Nestlé, multinacional de alimentos e bebidas – presente em 190 países e com 308 mil funcionários pelo mundo (sendo 32 mil no Brasil) – recomendou a suspensão de viagens e pediu que os funcionários utilizem “métodos alternativos” de comunicação sempre que possível.

Funcionários que tenham viajado para regiões afetadas pelo vírus nos últimos 14 dias devem informar o chefe imediato e trabalhar de casa por duas semanas.

A multinacional informou que adotou medidas de biossegurança nas fábricas, escritórios e centros de distribuição, com medidas de controle de infecções estendidas a fornecedores.

Beleza

O grupo L’Oréal, do setor de beleza e cosméticos com sede na França, também suspendeu todas as viagens até 31 de março, como medida preventiva.

Outras companhias restringiram os destinos permitidos.

Setor energético

A Enel, do setor de energia e com matriz na Itália, interrompeu viagens de e para China, Hong Kong, Macau e Taipé, incluindo escalas nesses países.

Para os demais destinos, as viagens serão feitas apenas quando consideradas como essenciais para os negócios e de acordo com as determinações das autoridades.

Grupo italiano

Outro grupo italiano, o Ferrero, dono de marcas como Nutella e Kinder e que tem operações no Brasil, não suspendeu as viagens, mas recomenda que sejam realizadas apenas quando “extremamente necessárias”.

No entanto, funcionários que viajaram para China, Cingapura, Hong Kong, Coreia e para o Norte da Itália estão sendo orientados a trabalhem em casa por 14 dias após o retorno a seu país.

A medida vale também para quem tem um familiar regressando de uma dessas áreas.

Restrições

A BRF, uma das maiores companhias de alimentos do mundo, dona das marcas Sadia e Perdigão e com operações em mais de 140 países, ampliou a lista com restrições de viagens.

Além da China, estão nela Coreia do Sul, Irã e Itália.

Ao realizar viagens a outros destinos, os funcionários já seguem diretrizes de biossegurança, diz a BRF, cumprindo o “vazio sanitário”, período em que eles não têm acesso a pessoas ou instalações da empresa, como fábricas e centros de distribuição.

Agora, esse prazo subiu de dois a três dias para 14. A empresa criou um grupo de trabalho que monitora os mercados onde a BRF atua para atualizar os funcionários sobre a evolução da doença e medidas preventivas.

Alimentos

Restrições semelhantes estão sendo adotadas no frigorífico Minerva, um dos maiores processadores de proteína animal in natura do mundo.

Segundo o presidente Fernando Galletti de Queiroz, a orientação é evitar viagens internacionais desnecessárias e seguir as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), como disponibilizar desinfetantes e álcool em gel aos empregados, entre outras medidas.

Cartilhas

Pelo menos 12 milhões de trabalhadores do comércio e serviços no país já estão recebendo cartilhas virtuais com recomendações para se prevenir contra o coronavírus.

O material foi enviado a 1,3 mil sindicatos filiados à União Geral dos Trabalhadores (UGT).

“A ideia é que esse material seja difundido via redes sociais para mais pessoas. E vamos imprimir 1 milhão de exemplares para distribuir à população em geral”, disse Ricardo Patah, presidente da UGT.

Fábrica na China

Sediada em Caxias do Sul, a Randon, fabricante gaúcha de autopeças, emprega 130 pessoas numa fábrica nos arredores de Xangai.

A unidade, parada desde o feriado de Ano Novo chinês, retomou as atividades em 10 de fevereiro.

“Todos que voltaram a trabalhar passaram por exames médicos”, diz a empresa. Os executivos que voltaram de viagens internacionais estão passando por 14 dias de quarentena domiciliar. Saídas do Brasil estão sendo adiadas.

 

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Foto: Alex Pazuelo/Agecom