As decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes de mandar soltar doleiros presos na operação “Câmbio, Desligo” não deixam frustrado o juiz da 7ª Vara Federal Criminal no Rio de Janeiro, Marcelo Bretas (foto ).
Foi o próprio juiz que comentou o caso, após a mais recente soltura determinada por Gilmar, a de Marcelo Rzezinski, na sexta-feira passada (22).
“Eu não me sinto frustrado. Me sinto feliz, porque o Judiciário está funcionando. Não tenho o que reclamar. É uma questão de hierarquia”, disse Bretas, em declaração captada pela Agência Brasil .
Os dois trocaram críticas nos últimos meses , justamente por decisões que resultaram na soltura de réus presos por ordem do juiz na Operação Câmbio , Desligo e em outros casos relacionados à Lava Jato no Rio.
O comentário do magistrado foi feito após audiência sobre a Operação Unfair Play, em que foram ouvidos o doleiro Renato Chebar; o operador de propinas de Sérgio Cabral, Carlos Miranda; e o operador financeiro Enrico Vieira Machado.
Bretas comentou as decisões de Gilmar, mas sem oferecer posicionamento pessoal.
Procuradores discordam
Os representantes do Ministério Público Federal (MPF) presentes à audiência, procuradores Fabiana Schneider e Almir Sanches, discordaram da fundamentação do ministro para a decisão, segundo o qual que não teria havido contemporaneidade entre a decretação da prisão por Bretas e a atividade criminosa.
“Vai contra o nosso entendimento. A contemporaneidade estava presente. A gente entende que, enquanto tem dinheiro oculto, está se lavando dinheiro e, portanto, o crime permanece acontecendo”, disse Fabiana.
Marcelo Rzezinski é o sexto doleiro solto por Gilmar, durante o mês de junho, todos eles presos por decisão de Bretas, no âmbito da Operação Câmbio, Desligo, que investiga o papel dos doleiros na movimentação internacional do dinheiro de propinas, especialmente no governo de Cabral, para contas abertas em bancos no exterior, incluindo paraísos fiscais, para ocultar a propriedade dos valores.
Com a decisão, o doleiro será libertado mediante o cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão, como proibição de deixar o país e de manter contato com outros investigados.
Unfair Play
Durante o interrogatório de réus presos na Operação Unfair Play, o operador financeiro de Cabral, Carlos Miranda, calculou que o empresário Arthur Menezes Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur”, chegou a dar entre R$ 1 milhão e R$ 1,2 milhão por mês, em propina, como forma de garantir que suas empresas, do setor de serviços, ganhassem contratos no estado.
O doleiro Renato Chebar, que foi réu colaborador durante o processo, confirmou que repassava dinheiro a mando de Cabral, para uma conta bancária chamada Matlock, no banco EVG, no paraíso fiscal de Antígua e Barbudas, e atuava como procurador, podendo movimentar recursos.
O operador Enrico Machado trabalhava no EVG e confirmou que houve entrada de cerca de US$ 11 milhões na conta Matlock.
Rei Arthur teve sua prisão pedida por Bretas e atualmente estaria em uma mansão de sua propriedade, em Miami, nos Estados Unidos.
Foto: Reprodução/Rota 2014/Wilton Júnior/Estadão