Um dos impactos negativos da pandemia na economia brasileira foi a queda forte da confiança de empresários e de consumidores.
Era uma festa para muitos convidados; buffets, decoradores, floristas, fotógrafos… Faltava fim de semana na agenda.
Hoje, o setor mal sobrevive de pequenos e raros encontros. A loja de aluguel tenta colocar a mesa para poucos, ao ar livre, na praia ou no campo.
Não tem casamento sem confiança – isso vale também na lógica da economia.
“Essa imprevisibilidade gera uma angústia muito grande. Eu acredito que tanto nas noivas, nas pessoas que gostariam de estar festejando, como no empresário”, contou a empresária Cristina Vieira de Moraes.
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A coordenadora de lavanderia trabalha com o salário pela metade. Em casa, só consegue pensar no que não fazer.
“O plano da gente era reformar, crescer, fazer melhor. Quando começou a pandemia, a gente parou, deixou tudo quieto. Ninguém sabe o que vai acontecer”, relatou Maria Nilza Silva Almeida.
Não é só no Brasil que o futuro parece mudar de lugar com a curva de casos e mortes pela covid, com notícias da vacina ou de novas cepas do vírus. Mas, no Brasil, indicadores mostram que o sentimento de incerteza é mais forte.
Os depósitos das empresas estão cheios porque está difícil repor o estoque de confiança na economia brasileira.
Isso aparece nas pesquisas com empresários e consumidores, na trajetória do real – a moeda que mais perdeu valor na pandemia – , no nível de investimento e no atraso da retomada da atividade.
Os economistas explicam que confiança é uma valiosa moeda de troca – sem ela, não tem negócio.
“A confiança é o que nos move a comprar mais, a investir, a contratar, a viajar. Eu tenho que estar confiante de que eu vou continuar com o meu emprego para eu pegar um pouco do meu dinheiro, do meu salário, um pouquinho da minha poupança e fazer uma viagem”, contou Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central.
Otimismo em baixa
A Fundação Getúlio Vargas mede todos os meses o otimismo dos setores e dos consumidores.
Entre os empresários, a confiança caiu para o menor nível em abril de 2020. Ensaiou uma retomada, mas no fim de 2020 retrocedeu; 2021 começou com a indústria, o comércio e a construção civil mais pessimistas em relação ao futuro. E foi pior ainda no setor de serviços.
“Eu tinha 78 funcionários. Hoje, nós temos 28. Foram 50 rescisões sentidas inclusive de pessoas com mais de 20 anos de empresa”, afirmou Cristina Vieira.
Nas pesquisas com consumidores, a confiança está em baixa. Em abril de 2020 afundou até o menor nível da história.
Sem entusiasmo, subiu até setembro, mas voltou a cair antes da virada do ano. E em 2021 perde força esse sentimento que move a economia.
“A gente fica preocupado, sem saber o que vai acontecer, se fica desempregado, se o marido fica, se eu também fico, tudo… Vai mexer muito na vida da gente”, contou Maria Nilza.
“Então, quando você tem uma perspectiva, você está numa fase, numa onda de pandemia forte, com muitos casos, muitos óbitos relatados, há uma desaceleração e pelo lado empresarial há um aumento da preocupação muito grande em relação aos meses seguintes; pelo lado do consumidor isso é ainda mais forte, ele está muito preocupado com a pandemia e seus efeitos sobre o mercado de trabalho. Então o medo do desemprego faz com que o consumidor assuma uma postura muito cautelosa nesse momento”, explicou Aloisio Campelo Junior, superintendente de estatísticas da FGV.
Para o ex-diretor de Política Monetária do Banco Central, faltou ao Brasil um plano de vacinação.
“Infelizmente, o Brasil fica batendo cabeça onde não deveria bater. A questão da vacinação deveria ter sido uma coisa programada desde muito tempo atrás. Provavelmente o Brasil vai crescer alguma coisa como 3% este ano, lembrando que no ano passado ele andou para trás em 4,5%. É uma recuperação parcial do que a gente perdeu no ano passado”, afirmou Luiz Fernando Figueiredo.
O Ministério da Saúde afirmou que já enviou aos estados 11,1 milhões de doses de vacinas contra a Covid; que o Brasil tem neste momento 354 milhões de doses garantidas para 2021; e que negocia a compra de mais imunizantes com outros fabricantes.
O ministério declarou também que a priorização de grupos populacionais foi necessária diante da não disponibilidade imediata de vacina para todos; que o plano nacional de operacionalização da vacina contra a Covid é dinâmico e vai ser atualizado à medida em que vacinas forem sendo aprovadas pela Anvisa.
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