Garimpo em terra ianomĂ¢mi cresceu mais de 3.000%

O monitoramento do desmate por garimpo na TI IanomĂ¢mi Ă© feito desde 2019 pelo Deter. Nos quatro anos monitorados, 958 hectares da floresta na Ă¡rea foram derrubados pelo desmatamento.

Publicado em: 28/01/2023 Ă s 19:12 | Atualizado em: 30/01/2023 Ă s 21:11

A Terra IndĂ­gena (TI) IanomĂ¢mi vendo sendo dominada por garimpeiros desde 2016 – a Hutukara AssociaĂ§Ă£o estima que existam atualmente 20 mil garimpeiros dentro da Ă¡rea agindo com financiamento do crime organizado e trĂ¡fico de drogas. Segundo a associaĂ§Ă£o, o garimpo cresceu 3.350% no local de 2016 a 2020.

Com o garimpo, o desmatamento na Terra IndĂ­gena (TI) IanomĂ¢mi chegou a 232,7 hectares em 2022, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ă¡rea 24,7% maior do que a do ano anterior.

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Mais seis ianomĂ¢mis morrem de malĂ¡ria e desnutriĂ§Ă£o

O levantamento foi compilado a pedido do jornal Folha de S.Paulo, com base em imagens de satĂ©lite do Sistema de DetecĂ§Ă£o do Desmatamento em Tempo Real (Deter).

A atividade do garimpo estĂ¡ por trĂ¡s da grave crise que atinge os ianomĂ¢mis, que enfrentam desnutriĂ§Ă£o, contaminaĂ§Ă£o por mercĂºrio e surtos de malĂ¡ria.

Em 20 de Janeiro, a ministra da SaĂºde, NĂ­sia Trindade, declarou emergĂªncia mĂ©dica no territĂ³rio.

Relatos apontam que 570 crianças morreram de desnutriĂ§Ă£o e doenças evitĂ¡veis durante os quatro anos do governo Jair Bolsonaro, a quem o atual presidente, Luiz InĂ¡cio Lula da Silva, acusa de ignorar as atividades do garimpo ilegal e a situaĂ§Ă£o de emergĂªncia humanitĂ¡ria.

O monitoramento do desmate por garimpo na TI IanomĂ¢mi Ă© feito desde 2019 pelo Deter. Nos quatro anos monitorados, 958 hectares da floresta na Ă¡rea foram derrubados pelo desmatamento.

Em 2019, o desmate na TI Yanomami foi de 269,4 hectares, e permaneceu no mesmo nĂ­vel no ano seguinte, com mais 269,57 hectares destruĂ­dos. Em 2021, foi registrada queda, para 186,58 hectares.

DinĂ¢mica eleitoral

Ă€ Folha de S. Paulo, o geĂ³grafo EstevĂ£o Senra, pesquisador do Instituto Socioambiental, disse que o aumento do desmatamento pelo garimpo no ano passado pode ser atribuĂ­do em parte Ă  dinĂ¢mica eleitoral: por um lado, garimpeiros tentando se estabelecer na Ă¡rea com a expectativa da liberaĂ§Ă£o da atividade caso Bolsonaro fosse reeleito e, por outro, a tentativa de extrair o mĂ¡ximo possĂ­vel antes de um eventual endurecimento da fiscalizaĂ§Ă£o caso Lula ganhasse – como o petista vem prometendo fazer.

AlĂ©m do desmatamento, o garimpo tambĂ©m vem impondo outras tragĂ©dias ao povo ianomĂ¢mi. O relatĂ³rio ianomĂ¢mi sob ataque, da Hutukara AssociaĂ§Ă£o, publicado em abril de 2022, denunciou que garimpeiros haviam tomado polos de saĂºde indĂ­gena que atendiam mais de 5 mil indĂ­genas por mĂªs.

O levantamento tambĂ©m apresentou casos de casamento forçado entre garimpeiros e indĂ­genas em troca de comida e armas de fogo, estupro de menores, rapto de crianças, aliciamento e trabalho escravo na TI IanomĂ¢mi.

Maior terra indĂ­gena do paĂ­s, o territĂ³rio ianomĂ¢mi foi demarcado em 1992 e fica nas florestas de Roraima e Amazonas, colado Ă  fronteira com a Venezuela.

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Foto: ISA