Hapvida é acusada de pressionar médicos a receitarem ‘kit covid’
Um ex-funcionário da companhia, o médico Felipe Peixoto Nobre, detalhou sobre o “assédio” para receitar tratamento precoce
Ferreira Gabriel
Publicado em: 04/10/2021 às 18:40 | Atualizado em: 04/10/2021 às 18:40
A operadora de saúde Hapvida, que tem a maior presença nacional nas regiões Norte e Nordeste, é acusada de pressionar médicos para cumprirem metas de prescrição de “kit covid” para pacientes. Os medicamentos receitados não tem eficácia comprovada a doença.
Mensagens, áudio e relatos revelados pelo GLOBO na sexta-feira mostraram que as intimidações envolviam orientações diretas para “fazer o convencimento” de pacientes para o uso de cloroquina.
Agora, um ex-funcionário da companhia, o médico Felipe Peixoto Nobre, detalhou sobre o “assédio” para receitar tratamento precoce. De acordo com ele havia uma lista de médicos considerados “ofensores” e ameaçados de demissão.
“Éramos vistos como inimigos e marcados com uma bandeira vermelha. Recebi quatro visitas no ambulatório do médico-líder em menos de um mês. Me disseram que eu corria o risco de ser desligado do plano, caso eu não prescrevesse o “kit covid”. A chefia sabia exatamente quem prescrevia ou não, porque estavam fazendo auditoria nos prontuários, um absurdo total”, disse Nobre ao Globo.
A defesa do “kit covid”, mesmo após sua ineficácia ser comprovada, é uma das principais acusações contra o governo Jair Bolsonaro na CPI do Senado.
O presidente ainda continua defendendo o chamado “tratamento precoce”, como apregoou em seu discurso na última Assembleia Geral da ONU, em Nova York, na contramão da ciência.
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Recusa de testes
O médico ainda relatou que a operadora se recusava a fazer testes de Covid-19 em pacientes suspeitos. Isso, segundo ele, acabou “gerando ainda mais a contaminação do ambiente”.
Sobre a pressão exercida sobre os médicos para que receitassem o “kit covid” para os pacientes, a Hapvida afirmou que a prescrição da cloroquina ocorria “sempre durante consulta, de comum acordo entre médico e paciente”, e que “respeita a autonomia e a soberania médica”.
A operadora também declarou que a adoção do medicamento foi “sendo reduzida de forma constante e acentuada”. Afirmaram ainda que a prática teria deixado de ocorrer “há meses”.
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Foto: Divulgação