De acordo com um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que analisou amostras de cabelo de quase 300 indivíduos da região de Maturacá, no Amazonas, 56% dos indígenas apresentaram concentrações de mercúrio acima do limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que é de 2 microgramas por grama (ou ppm).
Os 9,6 milhões de hectares entre os estados do Amazonas e Roraima são considerados uma região rica em minérios. No local vivem cerca de 26 mil indígenas ianomâmis que têm sido altamente impactados pela presença de garimpeiros ilegais.
Em 4% da população analisada havia concentrações acima de 6 microgramas por grama, considerado o limite para o surgimento de efeitos adversos à saúde.
A partir dessa concentração de mercúrio no cabelo, aumentam as chances de surgirem danos neurológicos graves.
Os resultados desta pesquisa foram apresentados à comunidade indígena no final de julho, em cumprimento ao acordo firmado entre a coordenação do projeto e os líderes locais. O estudo para avaliação da exposição foi um pedido das próprias lideranças.
Ainda em fase de publicação, a matéria faz parte de uma investigação mais ampla sobre a situação nutricional de crianças indígenas, intitulada ‘Pesquisa sobre os determinantes sociais da desnutrição de crianças indígenas de até cinco anos do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Yanomami’.
Financiado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a pesquisa é coordenado pelo pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), Paulo Basta.
A Especialista em mercúrio, professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), Ana Claudia Vasconcellos foi a campo durante o mês de fevereiro de 2019. “Aplicamos um questionário e obtivemos informações sobre o histórico de doenças da família, sobre a alimentação das crianças, das mães, de todos em uma maneira geral. Nessas visitas também coletamos as amostras de cabelo, que após serem armazenadas e identificadas, foram encaminhadas para o laboratório de toxicologia, do Instituto Evandro Chagas”, disse.
Das amostras de cabelo analisadas, provenientes de 134 mulheres adultas e 144 crianças, as concentrações de mercúrio variaram de 0,08 a 13,87 microgramas por grama. Este valor máximo foi detectado em uma amostra de cabelo de uma criança de três anos.
Tal concentração representa cerca de sete vezes mais mercúrio que o limite sugerido pela OMS.
“No caso de crianças pequenas, de meses a três anos, por exemplo, a exposição ao mercúrio pode estar associada ao consumo de leite materno (que também pode conter mercúrio caso a mãe se alimente de peixes contaminados), mas também pode ser reflexo da exposição intrauterina”, apontou.
A principal fonte de proteína animal na Amazônia ainda é o peixe. E a pesquisadora afirma que justamente por isso não tem como pedir que essa população deixe de comer esse alimento. “Além de ser uma questão cultural, é sobrevivência. Eles fazem tudo no rio, usam para trafegar, se banhar, se alimentar. Não tem como cortar essa ligação”, destacou.
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Foto: Reprodução/ Site Socio Ambiental