Na reta final do ciclo escolar, uma professora de uma das maiores escolas públicas de Manaus (AM) convidou os formandos do ensino médio para uma roda de conversa sobre seus planos para o futuro e qual faculdade pretendiam fazer.
No entanto, a discussão tomou um rumo inesperado quando um dos alunos, um indígena recém-chegado à escola, revelou que “o tio falou que ano que vem a gente já vai para a Turquia”.
O “tio” em questão era Abdulhakim Tokdemir, líder de um grupo islâmico que tem catequizado dezenas de crianças e adolescentes indígenas da Amazônia desde 2019, com o objetivo de convertê-los ao Islã. Essa é a primeira vez que há registro de islamização de indígenas na história do Brasil.
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A doutrinação islâmica acontece em São Gabriel da Cachoeira (AM), a cidade mais indígena do Brasil, na fronteira com a Colômbia e a Venezuela.
Após a doutrinação, os adolescentes são levados para Manaus e, quando completam a maioridade, são enviados para a Turquia, com uma parada em São Paulo. No entanto, a Polícia Federal interrompeu esses planos durante uma operação recente.
Vele do Javari
Indígenas do Vale do Javari continuam denunciando casos de abandono do poder público, conflitos e ameaças feitas por criminosos.
E isso vem ocorrendo após quase um ano dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
No dia dos povos originários, o g1 faz um recorte da atual situação do local, a partir do relato de uma liderança que mora na região e que denuncia as recentes agressões que estão sendo feitas.
A liderança é do povo Kanamari, mas tem medo de se identificar com medo de represálias. Segundo ela, no domingo (16), homens armados com fuzis, e que falavam espanhol, invadiram uma aldeia da etnia e ameaçaram o cacique.
Segundo ele, a briga começou após a Polícia Federal apreender madeiras extraídas ilegalmente do território indígena. Um boletim de ocorrência foi feito sobre o caso.
“Essas ameaças estão se tornando constantes. São pescadores, caçadores, madeireiros e até traficantes, que vem do lado do Peru, pegam aqui os parentes, fazem a cabeça deles, e os levam para trabalhar nesses negócios. E eles ameaçam, dizendo que se os parentes contarem algo do que viram por lá, eles vêm nas aldeias para matar todo mundo”.
“Eles não concordam com a nossa vigilância, falam que a Funai não quer nos ajudar, que eles tem que explorar a área e que a gente tem que negociar com eles, trocar as coisas com eles”, afirmou.
As ameaças, segundo o líder, se intensificaram após a morte do indigenista Bruno Pereira e a situação está tão crítica que os indígenas começaram a se refugiar na floresta, durante a noite, para evitar serem capturados pelos criminosos.
“Estamos com muito medo. Nossos parentes não dormem mais nas casas. Eles estão fugindo para o meio do mato, durante a noite. Só voltam de manhã, pois tem medo de voltarem e desses homens atirarem neles, nas crianças”, contou.
O líder teme pela sua vida e pediu que o Governo Federal possa ouvir os “parentes” sobre a situação que, segundo ele, está insustentável na maior terra indígena do país: “É preciso ouvir o que está acontecendo dentro do nosso território. Clamamos que as autoridades nos ouçam”, finalizou.
Na segunda-feira (17), a Associação dos Kanamari do Vale do Javari enviou um ofício à Funai relatando a situação. Na carta, os indígenas falam sobre as ameaças, ataques e clima de insegurança na região:
Leia mais na reportagem de THALYS ALCÂNTARA publicada no portal Metrópoles
Foto: reprodução