O isolamento social, causado pela pandemia de coronavírus, pode ter impedido as crianças e adolescentes de denunciarem casos de abuso sexual ocorridos principalmente em casa.
A afirmação é do presidente da Frente Parlamentar Contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, deputado Roberto Alves (Republicanos/SP).
A desconfiança do parlamentar ocorre diante dos dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020 recentemente divulgados. Eles mostram que houve uma redução dos casos de estupro de vulnerável no primeiro semestre de 2020.
Em meio ao cumprimento das medidas de isolamento social, foram registrados 25.469 crimes de estupro e de estupro de vulnerável em todo o país, uma redução de 22,4% em relação ao mesmo período de 2019.
No estado do Amazonas, houve uma redução de 27,4% dos casos de estupro de vulnerável. No mesmo período de 2019, foram registrados 285 casos e neste ano, 207.
Crianças e adolescentes ainda foram as maiores vítimas de violência, com crimes de estupro de vulneráveis correspondendo a 77% do total registrado.
Foram 17.287 casos registrados este ano, contra 22.282 em 2019, redução de 23%.
Evidências de subnotificação Para o presidente da Frente Parlamentar Contra o Abuso e a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, os números evidenciam um crescimento da subnotificação da violência sexual no Brasil durante a pandemia do novo coronavírus.
Roberto Alves explica que o aumento da subnotificação aconteceu pela incapacidade das vítimas de denunciar os abusos sexuais às autoridades, por estarem confinadas e sob a vigilância dos criminosos.
“A subnotificação é uma das características da violência sexual infantil. O abusador se beneficia do silêncio das vítimas e das testemunhas para não ser descoberto e continuar cometendo crimes”, explica o parlamentar.
Dados do Disque 100 apontam que 80% dos crimes de abuso sexual infantil ocorrem dentro de casa e que 73% foram cometidos por parentes ou por pessoas próximas à família da vítima.
Preocupação com a segurança das crianças “Nos primeiros meses de pandemia, juntamente com diversas autoridades e especialistas na área, já havíamos manifestado grande preocupação com a segurança das crianças e adolescentes. O isolamento social aproximou ainda mais os abusadores de suas vítimas, sem que elas pudessem pedir socorro”, destacou o presidente da Frente Parlamentar.
Roberto Alves acredita que muitos casos ainda chegarão ao conhecimento das autoridades, assim que acabarem as medidas de restrição, principalmente nas escolas.
“Os professores e pedagogos terão um papel fundamental de ouvir os alunos e levar seus relatos às autoridades”, afirmou.
O deputado ressaltou ainda a importância de denunciar, sendo esse o primeiro passo para salvar a vida de uma criança ou adolescente.
“Não importa quem é o abusador, quem ele representa, seu poder aquisitivo ou posição social. É preciso denunciá-lo. O futuro de uma criança é o mais importante”, ratificou o presidente da Frente Parlamentar.
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Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
