A crescente tensão entre o governo de Donald Trump e a América Latina tem gerado uma mudança nas alianças da região, com a China se posicionando como uma potencial beneficiária dessa reconfiguração.
As políticas de Trump, como o congelamento de programas de ajuda, a ampliação da deportação de imigrantes e a recente crise com a Colômbia, têm aprofundado a desconfiança na relação com os Estados Unidos.
O especialista Oliver Stuenkel, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador afiliado do think-tank Carnegie Endowment for International Peace, em Washington D.C., afirma que as ameaças de Trump em relação a territórios como a Groenlândia e o Canal do Panamá, empurram os países latino-americanos a buscar novos parceiros, como a China, que se apresenta como um aliado mais previsível e menos intervencionista.
A crise com a Colômbia, envolvendo tarifas e sanções norte-americanas devido à política migratória de Trump, e reações de outros países da América Latina, como o Brasil e o Haiti, reforçam o distanciamento da região dos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, a China tem ampliado sua presença diplomática e comercial na região, com destaque para acordos de livre comércio e investimentos em infraestrutura, como o megaporto no Peru.
A parceria entre China e América Latina, que já representa um volume crescente de comércio, pode ultrapassar US$ 700 bilhões até 2035.
O professor David Castrillon Kerrigan observa que os países latino-americanos estão cada vez mais buscando diversificar seus aliados, e a China tem se mostrado uma alternativa importante.
A presença chinesa tem se expandido, com a adesão de vários países latino-americanos à Iniciativa da Nova Rota da Seda, um projeto estratégico da China para aumentar sua influência global.
Além disso, os investimentos chineses em setores como energia, telecomunicações e infraestrutura estão fortalecendo os laços econômicos com a região.
Em relação à política externa dos Estados Unidos, o especialista Evandro Carvalho aponta que a instabilidade gerada por Trump tem contribuído para que os países latino-americanos se voltem mais para a China, especialmente em áreas como desenvolvimento e infraestrutura.
No entanto, apesar das tensões, a China e os Estados Unidos continuam sendo parceiros comerciais importantes e, no futuro, podem chegar a um acordo bilateral que impacte as relações comerciais com a América Latina.
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Enquanto isso, a China se aproveita da falta de uma estratégia consistente dos Estados Unidos na região, oferecendo um modelo alternativo de cooperação que privilegia o multilateralismo e a igualdade soberana.
Isso coloca a China em uma posição vantajosa para fortalecer sua presença na América Latina, com investimentos, empréstimos e acordos comerciais que vêm consolidando sua influência, especialmente em um contexto de distanciamento da região em relação aos Estados Unidos.
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Foto: Ricardo Stuckert/PR