Magistrados deixam microfone aberto e são flagrados falando mal do réu

A situação aconteceu em uma sessão virtual da 8ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo antes da sustentação oral da defesa

Magistrados deixam microfone aberto e são flagrados falando mal do réu

Publicado em: 30/10/2020 às 17:55 | Atualizado em: 30/10/2020 às 23:41

O advogado Vinícius Vilas Boas flagrou dois desembargadores da turma julgadora tecerem críticas ao seu cliente.

A situação aconteceu em uma sessão virtual da 8ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo antes de sua sustentação oral em um pedido de Habeas Corpus.

O julgamento ainda não havia sido retomado após o horário de almoço, mas os advogados que estavam na sala virtual continuaram ouvindo os debates e conversas “em off”, entre os desembargadores da Câmara.

 

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Vilas Boas estava inscrito para sustentar em favor de um homem preso preventivamente pelo crime de roubo.

Antes da sustentação, ele gravou o momento em que a relatora, desembargadora Ely Amioka, e o segundo juiz, desembargador Maurício Valala, conversavam sobre o acusado.

“Encontrei um vídeo desse réu dando um monte de soco em um professor de matemática. O professor até largou a profissão por causa desse caboclo aí. Ele também foi internado na Febem [hoje Fundação Casa] por roubo à residência, mesma coisa do nosso caso aqui, quer dizer, um santo”, afirmou a desembargadora.

“Um santo mesmo. Tem que ser beatificado e canonizado”, completou Valala. A conversa seguiu outros rumos e, 20 minutos depois, o advogado Vilas Boas pediu a palavra e informou que deixaria a sessão alegando que os magistrados fizeram um “pré-juízo de valor” a respeito do paciente. O presidente da Câmara, desembargador Sérgio Antonio Ribas, destacou que a conversa foi “extra-autos”.

 

Reação da desembargadora

 

Vilas Boas contou aos desembargadores que havia gravado a conversa, enquanto a relatora Ely Amioka disse que nada do que foi falado constava em seu voto (o pedido de HC foi negado e o acórdão ainda não foi publicado).

“Eu tenho direito de pesquisar sobre o réu. Mas nada disso foi apreciado no voto, porque não integra o caso”, disse Amioka.

Foi aí que o bate-boca ficou mais acalorado.

“O senhor fez uma coisa muito errada que é escutar a conversa dos outros. Ninguém lhe chamou para a conversa”, disse Sérgio Antonio Ribas.

“A conversa estava disponível para todos,” respondeu o advogado, que pediu para consignar em ata a sua saída da sessão.

O presidente não aceitou, alegando que o episódio ocorreu extra-autos, e disse que comunicaria a OAB-SP sobre a conduta de Vilas Boas.

Ele também repreendeu o advogado por se dirigir aos magistrados por “vocês” e não “vossas excelências”.

“Vossas excelências simplesmente deixaram os microfones ligados. Não vou mais discutir com vossa excelência. Depois do que ouvi, estou saindo da sessão”, respondeu Vilas Boas.

O presidente da Câmara rebateu e disse que o advogado foi “indelicado” e “faltou com respeito”.

 

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Foto: jurinews.com