Medidas anticovid no AM seriam eficazes antes do Natal, diz cientista

Na avaliação de Jesem Orellana, as medidas anunciadas hoje pegaram a população de surpresa e vai aumentar a circulação viral entre hoje e o dia 25.

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Iram Alfaia, do BNC Amazonas em Brasília

Publicado em: 23/12/2020 às 20:09 | Atualizado em: 23/12/2020 às 20:21

As medidas de combate ao coronavírus (covid), anunciadas pelo Governo do Amazonas, seriam eficazes se tomadas muito antes do Natal. A avaliação é do cientista Jesem Orellana, da Fiocruz/Amazônia.

As providências de enfrentamento à covid são avaliadas como positivas pelo cientista que também é epidemiologista. O governo do estado anunciou as medidas nesta quarta-feira (23). Orellana entende, portanto, como anunciadas tardiamente (na foto, fiscalização contra insegurança viral).

A partir do próximo sábado até o dia 10 de janeiro, estão proibidas festas, casamentos e formaturas. Por seu lado, shoppings, restaurantes e comércio não essencial só poderão funcionar por drive-thru e delivery no máximo até as 21h.

“A discussão sobre o decreto não surgiu do nada, de ontem para hoje. É uma discussão de ao menos 15 dias. Portanto, o mais apropriado seria baixar esse decreto antes do Natal, o que resultaria em efetiva e programada redução da circulação de pessoas”, explicou o cientista ao BNC Amazonas.

De acordo com ele, as pessoas estão loucas nas ruas e o trânsito está um caos. “Essa medida pegou a população de surpresa e vai aumentar a circulação viral entre hoje e o dia 25. A ‘bomba-relógio’ pode estourar nos próximos dias ou semanas”, previu.

 

Reações

Na sua avaliação, esse tipo de “estratégia surpresa” causa reações imprevisíveis na população. “Decisões mal planejadas, geram uma corrida que favorece a circulação viral”, afirmou.

Apesar disso, Orellana diz que as medidas servem para colocar um freio na epidemia do coronavírus, mas não a controla.

Lembrou que essa situação poderia ter sido evitada caso o poder público tivesse levado em conta os alertas feitos desde o início de agosto sobre a existência da segunda onda em Manaus.

“Nós tivemos dois minicolapsos no número de leitos de UTI do Hospital Delphina Aziz, a única referência do Amazonas, sendo um no final de outubro e outro agora no 11 de dezembro. Você vai abrindo leitos e eles estão enchendo”, disse.

Por conta da atual situação, Orellana diz que “algumas falácias” deixaram de ter sentido. E citou, por exemplo, a chamada imunidade de rebanho alcançadas em Manaus.

Houve uma despreocupação com a situação epidemiológica da cidade. Propagava-se que 76% ou 80% da população já havia sido infectada pelo coronavírus.

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Planejamento

O epidemiologista defendeu um plano de mitigação de médio prazo, uma vez que as atuais medidas não controlam a epidemia.

“A proposta de controle da epidemia precisa ser sustentável. E para ser sustentável, precisa de um plano de mitigação de médio prazo. Daí a importância de falarmos em vacina com mais contundência”, defendeu.

Ele considerou uma programação para os próximos 12 meses e a abertura do diálogo com a sociedade. Disse que o plano de vacinação já está sendo discutido, mas sem abrir o debate com a sociedade.

Lembrou, entretanto, que o plano precisa envolver um grande contingente de vulneráveis, especialmente as populações indígenas.

 

Foto: divulgação/SSP-AM – 18/12/2020