Movimentação financeira do PCC cresceu quase 200 vezes em 15 anos
Planilhas revelam que a organização movimentou R$ 6,2 milhões de setembro de 2004 a junho de 2005, e cerca de R$ 1 bilhão entre 2018 e 2019

Diamantino Junior
Publicado em: 30/10/2020 às 07:08 | Atualizado em: 30/10/2020 às 07:08
Documentos de 2004 e 2019 apreendidos pela Polícia Civil e Ministério Público de São Paulo (MP-SP) com tesoureiros e contadores do PCC (Primeiro Comando da Capital) mostram que a movimentação financeira da maior facção criminosa do Brasil aumentou 160 vezes nos últimos 15 anos.
O UOL teve acesso a planilhas que revelam que a organização movimentou R$ 6,2 milhões de setembro de 2004 a junho de 2005, e cerca de R$ 1 bilhão entre 2018 e 2019. A evolução patrimonial atingiu cifras dignas de uma multinacional.
Deivid Surur, 23, conhecido como DVD, o primeiro tesoureiro da história do PCC, foi preso em 22 de julho de 2005 pelo Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), da Polícia Civil. Com ele foram apreendidos cadernos e anotações contendo a contabilidade do grupo.
O tesoureiro não usava computadores, notebooks nem pendrive. As planilhas encontradas com Deivid eram autênticos manuscritos.
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Ele anotava tudo a caneta em folhas de caderno. O PCC ainda não fazia negociações em moeda americana nem usava doleiros em suas transações.
Começo dos negócios
A documentação indica que a facção movimentava mensalmente entre R$ 100 mil e R$ 350 mil com:
- compra de drogas
- aquisição de armas
- munição e veículos
- pagamentos a advogados
- remessa de dinheiro para seus líderes
- empréstimos para os integrantes
As investigações do Deic constataram que a organização iniciava naquela época a lavagem de dinheiro.
O delegado Ruy Ferraz Fontes escreveu em seu relatório de investigação após a prisão de Deivid Surur:
“Ele assumiu o controle financeiro da facção criminosa. É responsável pelo recebimento do dinheiro arrecadado, sua organização e posterior remessa aos líderes do PCC. Assumiu também o controle dos investimentos e fiscalização dos pontos de vendas de entorpecentes na capital e Baixada Santista”.
Deivid foi preso em São Mateus, na zona leste de São Paulo e ficou 20 dias atrás das grades. Foi encontrado morto em 10 de agosto de 2005 no CDP 1 (Centro de Detenção Provisória) do Belém em uma cela onde havia outros 10 detentos.
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Foto: divulgação Polícia Federal