AnulaĂ§Ă£o de provas da Odebrecht enterra ainda mais Lava Jato

Essas decisões foram inicialmente tomadas pelo ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou em abril, e os procedimentos foram posteriormente herdados por Dias Toffoli.

Publicado em: 17/07/2023 Ă s 14:30 | Atualizado em: 17/07/2023 Ă s 14:30

A anulaĂ§Ă£o das principais provas apresentadas na leniĂªncia da Odebrecht pelo Supremo Tribunal Federal (STF) estĂ¡ impactando os casos restantes dos vĂ¡rios braços da Lava Jato espalhados pelo paĂ­s, beneficiando indivĂ­duos como o irmĂ£o do ex-ministro Geddel Vieira Lima e Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto.

Essas decisões foram inicialmente tomadas pelo ministro Ricardo Lewandowski, que se aposentou em abril, e os procedimentos foram posteriormente herdados por Dias Toffoli.

As provas utilizadas nos processos sĂ£o derivadas dos sistemas Drousys e MyWebDay da Odebrecht, que envolvem comunicaĂ§Ă£o interna e contabilidade e controle de pagamentos de propinas, respectivamente.

A pedido da defesa do ex-presidente Lula, na época representada por Cristiano Zanin, nomeado ministro do STF, Lewandowski interrompeu as investigações contra o político sob o argumento de que a integridade das provas obtidas desses sistemas estava comprometida, principalmente devido ao transporte inadequado dos arquivos.

Mensagens trocadas por procuradores, que foram acessadas por hackers e posteriormente obtidas na OperaĂ§Ă£o Spoofing, revelaram que os arquivos foram manuseados em sacolas de supermercado, sem os devidos cuidados de preservaĂ§Ă£o.

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Com base nesse argumento, Lewandowski também suspendeu ações contra o ex-vice-presidente Geraldo Alckmin e o ex-presidente da Fiesp Paulo Skaf.

Em março deste ano, o ministro aposentado tambĂ©m interrompeu processos contra o ex-ministro Edison LobĂ£o, o almirante Othon Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear, e o advogado Rodrigo Tacla Duran.

AtĂ© o momento, jĂ¡ foram registrados pelo menos 60 pedidos de extensĂ£o da decisĂ£o concedida a Lula para outros citados na delaĂ§Ă£o da Odebrecht.

Os casos relacionados a esse tema, que estavam sob a responsabilidade de Lewandowski, foram transferidos para o ministro Dias Toffoli apĂ³s sua aposentadoria. Toffoli tem seguido as solicitações da defesa e declarado a imprestabilidade das provas em vĂ¡rias ações, impedindo o seu uso.

Ele fez isso, por exemplo, em um processo envolvendo o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto. Souza foi o principal alvo da força-tarefa da Lava Jato em SĂ£o Paulo e enfrentou cinco denĂºncias entre março de 2018 e setembro de 2020, acusado de corrupĂ§Ă£o e lavagem de dinheiro em obras de SĂ£o Paulo, principalmente no trecho sul do Rodoanel.

Sua defesa sempre negou as irregularidades. Toffoli tambĂ©m declarou a imprestabilidade das provas em processos envolvendo o ex-ministro Paulo Bernardo e o ex-deputado LĂºcio Vieira Lima, irmĂ£o de Geddel Vieira Lima.

“Os elementos probatĂ³rios coincidem, ao menos em parte, com aqueles declarados imprestĂ¡veis por esta Suprema Corte nos precedentes antes mencionados, ostentando, em consequĂªncia, os mesmos vĂ­cios”, afirmou Toffoli em suas decisões.

O ministro destacou que a nulidade das provas jĂ¡ foi ratificada em decisĂ£o da Segunda Turma do STF, sem possibilidade de recurso, devido Ă  comprovada contaminaĂ§Ă£o do material probatĂ³rio arrecadado pela 13ª Vara Federal de Curitiba.

Essas decisões tambĂ©m beneficiaram o deputado federal Beto Richa, ex-governador do ParanĂ¡ e atualmente deputado federal, e Anthony Garotinho, ex-governador do Rio de Janeiro.

Em muitas ações, a imprestabilidade das provas Ă© o primeiro passo do JudiciĂ¡rio para a anulaĂ§Ă£o completa do processo.

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Foto: divulgaĂ§Ă£o