Presidente volta a criticar restrições e defende liberdade de circulação
O presidente comentou que “tem estado que já está abrindo”, citando o Distrito Federal, que, segundo ele, “já abriu muita coisa”.

Neuto Segundo
Publicado em: 09/04/2020 às 10:39 | Atualizado em: 09/04/2020 às 10:39
O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender nesta quarta-feira, 9, o relaxamento das medidas de isolamento social adotadas por governadores contra o novo coronavírus.
Ele diss que pensa em submeter ao Congresso, por Projeto de Lei, a ampliação de categorias essenciais que poderão circular livremente, independentemente das restrições impostas por governadores e prefeitos.
“Os mais humildes não podem deixar de se locomover para buscar o seu pão de cada dia. As consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a própria doença”, afirmou, durante pronunciamento em rede nacional.
Mais cedo, à TV Bandeirantes, o presidente afirmou não ter editado um decreto sobre o tema porque foi alertado que teria um “problema enorme” no Judiciário e no Legislativo.
“Eu fiz um anúncio dessa possibilidade e, poucas horas depois, o presidente da Câmara (Rodrigo Maia) disse que derrubaria, via projeto de decreto legislativo o meu decreto. E também tive notícias que o meu decreto iria sofrer impedimentos, vamos assim dizer, ações na Justiça a partir da primeira instância. (…) Penso até em transformar meu decreto em projeto de lei, e mandar para o Parlamento decidir”, declarou o presidente.
Leia mais
Uso da cloroquina é liberado pela Anvisa em pacientes graves
A Organização Mundial de Saúde (OMS), as demais autoridades da área de saúde, porém, afirmam que o distanciamento social é importante para reduzir o número de mortes.
No caso da OMS e dos principais economistas do mundo, há ainda a recomendação de que os governos promovam medidas que ajudem a população que perde renda com a paralisação das atividades.
A efetividade no envio dos auxílios é a maior cobrança a governos
O presidente comentou que “tem estado que já está abrindo”, citando o Distrito Federal, que, segundo ele, “já abriu muita coisa”.
E relatou ter ouvido de um colega de São Paulo que o trânsito de carros já foi maior do que ontem, para dizer que isso está acontecendo no Brasil todo.
“Respeito a autonomia”
Mais tarde, em pronunciamento transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão, Bolsonaro disse ser preciso resolver simultaneamente os problemas do novo coronavírus e do desemprego.
Em tom mais moderado, afirmou respeitar a autonomia dos governadores e prefeitos, mas reforçou que o governo federal não participou dessas decisões, apesar de serem baseadas em recomendações do Ministério da Saúde.
“Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos. Muitas medidas, de forma restritiva ou não, são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude ou duração. Espero que brevemente saiamos juntos e mais fortes para que possamos melhor desenvolver o nosso país”, afirmou.
Nesta quarta-feira, 8, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu que governos estaduais e municipais têm poderes para decretar medidas restritivas durante a pandemia – entre elas, o isolamento social, a quarentena, a suspensão de atividades de ensino, as restrições de comércio, atividades culturais e à circulação de pessoas -, mesmo que o governo federal tome depois medida em sentido contrário.
Ainda segundo o ministro, a validade dos decretos dos governos estaduais e das prefeituras poderão ser analisadas pelo Judiciário individualmente.
Ainda no pronunciamento, que foi alvo de panelaços em capitais como Rio, São Paulo e Brasília, o presidente fez a defesa do uso da hidroxicloroquina no tratamento da Covid-19 desde a fase inicial da doença.
No discurso, ele contou que conversou com o cardiologista Roberto Kalil Filho, que admitiu ter usado o medicamento para se tratar da enfermidade.
“Após ouvir médicos, pesquisadores e chefes de Estado de outros países, passei a divulgar, nos últimos 40 dias, a possibilidade de tratamento da doença desde sua fase inicial. Há pouco, conversei com o Dr. Roberto Kalil. Cumprimentei-o pela honestidade e compromisso com o Juramento de Hipócrates, ao assumir que não só usou a hidroxicloroquina, bem como a ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos”, declarou Bolsonaro.
Parabenizando o médico, que atende, entre outros, os ex-presidentes Lula e Dilma, ele mencionou que o protocolo de testes ainda não foi finalizado, mas disse que Kalil relatou ter ministrado o medicamento agora, “para não se arrepender no futuro”:
“Essa decisão poderá entrar para a História como tendo salvo milhares de vidas”.
Esta foi a quinta vez que o presidente usou o expediente para se dirigir à população sobre a crise do novo coronavírus.
Ele disse ainda ter a certeza que “a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar”, mas se “observadas as normas do Ministério da Saúde”.
Em entrevista nesta quarta-feira, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que a receita de cloroquina a pacientes que acabaram de sentir os sintomas e, principalmente, que ainda não foram diagnosticados com coronavírus pode gerar complicações.
“Por que não dá para todo mundo no primeiro dia (tomar cloroquina). Isso eu já expliquei várias vezes, mas vou explicar uma vez mais. (…) Hoje a maior parte das gripes dentro do Brasil não é coronavírus, são vírus conhecidos H1N1 que fazem quadro gravíssimo de pneumonia. Então, entrar com o medicamento cloroquina para esse tipo de vírus, que você não tem o diagnóstico de certeza, já seria uma primeira complicação.
Foto: Reprodução