Proposta de delação de Cunha tentava ludibriar Lava Jato

Publicado em: 15/08/2017 às 16:21 | Atualizado em: 15/08/2017 às 16:21
O ex-deputado Eduardo Cunha não convenceu os investigadores da Lava Jato e por isso a delação premiada prometida por ele dele não foi aceita, ao menos por enquanto.
A colaboração de Cunha era a mais esperada e também uma das mais temidas desde os acordos da JBS e Odebrecht.
Procuradores do Grupo de Trabalho da Lava Jato em Brasília rejeitaram a proposta de delação apresentada por Cunha, um dos mais próximos aliados do presidente Michel Temer.
As negociações vinham se arrastando há mais de um mês e, na sexta-feira passada, procuradores decidiram botar um ponto final das negociações.
As promessas do ex-deputado de delatar políticos com quem mantinha estreitos vínculos foram consideradas “inconsistentes e omissas”.
Cunha também teria apresentado poucos documentos para comprovar as genéricas acusações que teria feito.
A informação sobre o fim das tratativas foi divulgada pelo “Valor” e confirmadas pelo Globo nesta terça-feira (15).
A recusa da delação não pode, ainda, ser considerada uma derrota de Cunha.
Na semana passada, um interlocutor do ex-deputado disse que, mesmo com novo advogado e negociações em andamento, ele tinha mudado de estratégia.
Nova procuradora
Segundo esta mesma fonte, Cunha apresentou de forma intencional uma delação branda para ser rejeitada pela equipe do atual procurador-geral Rodrigo Janot.
A ideia dele seria esperar a posse da futura procuradora-geral Raquel Dodge e, a partir daí, buscar um acordo mais favorável, com menos revelações comprometedoras e mais benefícios.
Com isso ele poderia poupar os aliados com quem mantinha contato com mais frequência, entre eles Temer e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves.
Estratégia de Cunha
Cunha também estaria apostando numa inversão de expectativas no Supremo Tribunal Federal (STF) a partir da troca de papéis entre Janot e Raquel Dodge.
Com Janot fora de cena, ele acredita que seria mais fácil obter um habeas corpus no STF para deixar a prisão em Curitiba.
A decisão da Câmara de impedir que o STF abra processo por corrupção contra Temer como queria Janot teria sido um dos motivos que levaram Cunha a recuar da ideia da delação já.
No início das negociações Cunha teria prometido falar sobre Temer e pelo menos mais 50 deputados, senadores e ministros, entre outros políticos.
Procuradores entendiam que, pelos indícios que pesam contra o ex-deputado, Cunha teria munição para triturar a reputação de um expressivo número de políticos, alguns deles do topo da hierarquia.
Era isso que justificaria o acordo com o ex-deputado.
Até ser preso Cunha era suspeito de liderar uma das maiores bancadas da Câmara. Ele teria mantido o poder mesmo depois de encarcerado.
Desconfiança
Investigadores ainda mantêm o mesmo ponto de vista sobre o potencial explosivo se, de fato, Cunha decidisse falar tudo o que sabe.
Mas, nas últimas semanas, eles passaram a estranhar a estratégia do ex-deputado. Cunha prometia muito e entregava pouco. Para surpresa deles, Cunha estaria deixando importantes fatos de fora da delação.
Estaria também apresentando versões completamente inverossímeis e até mesmo contraditória em relação a contundentes provas já recolhidas ao longo das investigações.
“Não sabemos se essa delação vai acontecer”, dizia um dos investigadores.
Na sexta-feira, foi batido o martelo.
Nos termos apresentados, a Procuradoria-Geral entende que não tem cabimento fazer acordo com Cunha.
O ex-deputado está preso em Curitiba desde 20 de outubro do ano passado.
Em 31 de março deste ano ele foi condenado a 15 anos e 4 meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas em sentença assinada pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba.
Fonte: O Globo
Foto: Reprodução/Veja