Saiu o relatório de produção e vendas da Petrobrás do terceiro trimestre de 2022 em meio à disputa eleitoral.
A estatal e o preço dos combustíveis têm sido um dos ingredientes da campanha política do presidente Bolsonaro, candidato à reeleição.
De acordo com os dados do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) , os últimos três meses registraram a segunda queda consecutiva na produção de petróleo e gás.
Além de quedas na produção de derivados e no volume de vendas no mercado interno, na comparação com mesmo trimestre do ano anterior.
Na avaliação do pesquisador do Ineep, Mahatma dos Santos, o atual desempenho negativo da Petrobrás evidencia os impactos negativos da estratégia de desinvestimentos da empresa.
Assim, Santos diz que o foco na atividade de exploração e produção (E&P) e sobretudo no pré-sal deixa a empresa mais exposta à volatilidade dos preços internacionais.
“A geração de valor e dividendos no curto prazo são os objetivos prioritários.
Além de elevar os preços médios aos consumidores brasileiros, coloca em risco a sustentabilidade da relação entre produção e reservas da Petrobras no longo prazo”, afirma o pesquisador.
A queda em números
De acordo com o relatório, no terceiro trimestre de 2022, a produção média de óleo e gás natural caiu 6,6%,
Por conta disso, saiu de 2,83 milhões de barris de óleo equivalente por dia, em 2021, para 2,64 milhões de barris/dia neste trimestre.
Dessa maneira, a produção média de derivados petróleo, por sua vez, registrou queda de 9,4% na comparação anual, passando de 1,93 milhão de barris diários para 1,75 milhão de barris no terceiro trimestre de 2022.
A produção total de derivados caiu de 1,93 milhão de barris por dia (bpd) no 3T21 para 1,75 milhão de bpd no 3T22.
Nem mesmo a manutenção de um alto fator de utilização (FUT) de seu parque de refino, que neste trimestre alcançou 88%, um ponto percentual acima do 2T22, impediu o desempenho negativo no presente trimestre.
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Pré e pós-sal
Até mesmo no polígono do pré-sal, vetor estratégico da expansão da produção da estatal, houve a segunda queda trimestral consecutiva na produção.
Na comparação entre o terceiro trimestre de 2022 e o mesmo período de 2021, a produção de óleo e LGN no pré-sal caiu 3,8%.
Dessa forma, saiu de 1,67 milhão de barris equivalente por dia, para 1,60 milhão de boe/d no presente trimestre.
Com isso, o pré-sal representou 73% da produção total da Petrobras no trimestre deste ano.
No pós-sal profundo e ultraprofundo a queda na produção de óleo e GLN foi de 13,4% e nos campos em terra e águas rasas o decréscimo na produção alcançou 25,3%.
“Tal desempenho reflete, por um lado, o declínio natural da curva de produção dos campos maduros.
Por outro lado, a atual estratégia do E&P, que concentrou investimentos quase exclusivamente no desenvolvimento da produção no pré-sal.
Com isso, a Petrobrás abriu mão de apostar na recuperação de outras áreas”, explica Mahatma dos Santos.
Ademais, diz o pesquisador do Ineep, esses resultados acendem o alerta de riscos à sustentabilidade de tal estratégia no longo prazo para a necessidade de maiores investimentos nas atividades de exploração.
Justificativas
Segundo relatório do Ineep, a redução da produção de petróleo e gás natural da estatal se justifica por ao menos dois fatores operacionais:
– O maior impacto dos contratos de partilha de produção dos volumes de excedente da cessão onerosa dos campos de Atapu e Sépia, e
– a parada para descomissionamento e desmobilização da FPSO Capixaba.
Pelo levantamento, essa queda poderia ser maior, não fosse o ramp-up da produção na FPSO Guanabara e elevação da produção nos campos de Berbigão e Sururu, na Bacia de Santos.
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Mercado interno
Conforme o Ineep, o volume de derivados comercializados no mercado interno no 3T22 registrou queda de 7,6% em relação ao 3T21, saindo de 1,94 milhão de barris por dia (bpd) no ano anterior para 1,79 milhão bpd no 3T22.
Nessa comparação anual, a exceção do nafta e QAV (querosene de aviação), os principais derivados – diesel, gasolina e óleo combustível – registraram queda no volume de vendas no mercado interno.
Em suma, neste trimestre, as vendas de nafta e QAV cresceram, respectivamente, 1,3% e 23,8% na comparação com o 3T21.
Gasolina e diesel
As vendas de gasolina – segundo principal derivado comercializado pela Petrobrás – também tiveram redução de 8,2% na comparação do terceiro trimestre (3T22) com 3T21.
No período, a produção da gasolina caiu de 441 mil barris por dia (bpd) no 3T21 para 405 mil bpd no atual trimestre.
Vale ressaltar que tanto no caso do diesel quanto da gasolina a redução dos tributos incidentes sobre esses derivados impulsionou o consumo dos mesmos no 3T22.
Na comparação com o 2T22, as vendas de diesel cresceram 4,6% e da gasolina 8,0% no 3T22.
Energia elétrica
Não obstante, em virtude da melhora no nível dos reservatórios das hidrelétricas, a Petrobrás registrou uma queda de 88,3% na geração de energia elétrica.
Da mesma forma, caiu em 39,3% a venda de gás natural no 3T22, na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior.
Por fim, as exportações líquidas registram forte queda no 3T22, variação negativa de 76,9% em comparação ao 3T21.
“Esse resultado é explicado pelo desempenho ruim na comercialização externa do petróleo, queda nas exportações e elevação das importações de petróleo.
O fato chama atenção em um contexto em que a Europa e EUA estão buscando novos fornecedores de petróleo para substituir o insumo russo”, conclui o relatório do Ineep.
Foto: Petrobrás