Não há mais nada a esconder por trás da resistência à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Previdência Social ou reforma da Previdência. “Ninguém quer a reeleição do Bolsonaro”, desabafou o deputado Paulinho da Força (Solidariedade) em discurso direto contra o futuro do presidente da República. Paulinho (foto ) comanda o Centrão na Câmara. A repercussão do caso está na publicação do site EM.
O Centrão, segundo o site, grupo formado por oito partidos, ousa travar o andamento da reforma se o governo continuar a negar o “toma lá dá cá” dos cargos de segundo e terceiro escalões.
A depender dos votos do Centrão, o governo Jair Bolosnaro não terá êxito na empreitada de reformar o sistema previdenciário para não garantir eventual reeleição.
As manifestações do Dia do Trabalho viraram ato político contra a reforma da Previdência e o governo.
Os ataques não foram disparados apenas pela oposição, em palanques montados pelas centrais sindicais.
O presidente do Solidariedade, prossegue EM, deputado Paulinho da Força (SP), ligado à Força Sindical, externou uma articulação interna do Centrão de enxugar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6/2019 para não reeleger o presidente Jair Bolsonaro.
O diálogo sobre a desidratação da reforma da Previdência sob a ótica política de confronto ao governo era algo tratado na alta cúpula do Centrão, nos bastidores.
Os caciques não gostam da articulação adotada pelo governo. Para as lideranças, é fechada, de pouco diálogo.
As principais críticas recaem sobre as dificuldades em emplacar indicados políticos em postos de segundo e terceiro escalões nas administrações públicas federais direta e indireta.
O Solidariedade é um dos partidos que compõem o bloco político que dá as cartas e comanda as principais votações na Câmara, como a da reforma da Previdência, que se encontra em tramitação na Comissão Especial.
O Centrão é formado, também, pelo PP, PR, MDB, PSD, DEM, PTB e Podemos.
Ainda orbitam em torno desses oito partidos o PSDB e metade do PSL — partido de Bolsonaro — ligado ao líder da legenda, Delegado Waldir (GO).
\A aprovação da reforma no molde que o governo encaminhou ao Congresso garantiria uma economia de R$ 1,2 trilhão.
É esse ajuste que Bolsonaro pretende garantir, embora tenha demonstrado flexibilidade ao admitir um piso mínimo de R$ 800 bilhões.
Ainda assim, é um limite acima do que o Centrão discute aprovar.
Desabafo e repercussão
Para Paulinho, uma economia nesse patamar garantiria uma vitória nas eleições de 2022. “Nos últimos três anos de mandato, teria R$ 240 bilhões para gastar, ou seja, garantir a reeleição”, declarou ontem (1º), em São Paulo.
O texto ideal, na visão de Paulinho, é um que assegure uma economia máxima em torno de R$ 500 bilhões.
“Com esse discurso, tenho certeza de que a gente traz todo mundo do Centrão, porque ninguém quer a reeleição do Bolsonaro”, discursou.
As declarações de Paulinho não repercutiram bem nem no governo nem no Centrão.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse não acreditar que a opinião do deputado seja de todo o grupo.
“Vou trabalhar para uma economia de R$ 1 trilhão. Não estou preocupado com a eleição de 2022”, afirmou ao Estadão/Broadcast.
Líder do PSD — outro integrante do Centrão —, André de Paula também atacou a posição do ex-sindicalista.
“Para mim, é uma surpresa. Porque nunca tinha visto a questão por esse prisma, colocando o que não tem nenhuma importância à frente do que é um claro interesse nacional”, disse ao site O Antagonista.
Ao mesmo portal, o líder do PP, Arthur Lira, foi além: “Doidice dele, loucura. Nunca tratamos disso”.
Reação do governo
Se integrantes do Centrão criticaram Paulinho da Força, o governo bateu com mais força ainda.
O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, espera que a notícia não “seja verdade”.
“Esse é o momento de todos pensarem no Brasil e nas próximas gerações, e menos nas próximas eleições”, sustentou, em mensagem publicada no Twitter.
Na mesma rede social, publicou um vídeo de deputados do Novo em defesa ao texto, parabenizando os parlamentares que “abraçam e entendem o que é prioridade para o país”.
“Não estamos brincando de mera definição de quem vai ganhar e quem vai perder. É o futuro do país. Todos serão impactados com isso”, ponderou um interlocutor de Bolsonaro.
“Tirar pontos da proposta só para enfraquecer ou ter um ganho menor para não dar louros para o governo é uma coisa que mostra exatamente como é fundamental ocorrer uma reforma política no Congresso”, analisou outro.
Críticas
Apesar do mal-estar, o Planalto prega a continuidade de uma articulação com muito diálogo.
Vice-líder do governo no Congresso, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) destaca que todos os parlamentares são convidados a se sentirem parte do governo, mas sem apelar para o “toma lá dá cá”.
“Vamos conversar e trazer para perto e permitir que participem do governo aliados e pessoas que queiram ajudar. Mas sem esse espírito de porco, de querer atrapalhar o Brasil para se dar bem”, alertou.
O impacto das declarações de Paulinho terá um efeito reverso ao que pretende o parlamentar, prevê Kicis. “Acho que vai ficar muito feio para eles perante a população.
Com certeza, as pessoas entenderam que é necessária (a reforma) e (a economia) só vai se recuperar se tivermos uma reforma robusta. Em vez de ficarem preocupados com o sucesso do Brasil, estão de olho nas próximas eleições. É um caminho muito ruim para quem quer se reeleger”, avaliou.
Devolver mandato
Presidente da Frente Parlamentar Mista da Reforma Política, o deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PSL-SP) avalia que o posicionamento de Paulinho reforça a necessidade de discutir a aprovação de um mecanismo de “recall de mandato”, utilizado nos Estados Unidos para convocar novas eleições para um cargo em questão por abaixo-assinado feito por eleitores.
“No caso do Paulinho, isso não seria possível em um sistema proporcional. Mas a expansão do mecanismo para o futuro é algo que vamos discutir”, destacou.
O deputado antecipou ao Correio que a frente elabora um projeto de implementação do voto distrital a ser apresentado até junho.
O objetivo é implementar um sistema em que vereadores e deputados estaduais sejam eleitos individualmente nos limites geográficos de um distrito por maioria de votos.
A ideia é que o modelo seja híbrido e a execução a nível federal ocorra em outra fase. “Essa conversa de modelo federal fica para segundo plano. Vamos, gradualmente, mudar o sistema”, explicou.
Leia mais no EM
Foto: Jonas Pereira/Agência Senado