TCU investiga compra do governo Bolsonaro de seguro sem licitação

Tratativas do seguro internacional de R$ 24 milhões foram lideradas pela advogada Danielle Cavalcanti, que não tem cargo público e fez uma “doação de serviços” ao Ministério da Saúde

pfizer, anvisa, registro, vacina, coronavirus

Mariane Veiga

Publicado em: 23/08/2021 às 12:42 | Atualizado em: 23/08/2021 às 12:51

O TCU (Tribunal de Contas da União) investiga se há irregularidades na contratação feita pelo Ministério da Saúde, sem licitação, de seguro internacional de R$ 24 milhões para cobrir responsabilidades por eventos adversos das vacinas da Janssen e da Pfizer.

As tratativas do governo foram lideradas pela advogada Danielle Cavalcanti, que não tem cargo público e fez uma “doação de serviços” sem remuneração ao ministério, e por seu marido, Alvaro Cavalcanti Sayao, também funcionário do setor privado.

Danielle foi indicada para a função na Saúde por Zoser Hardman de Araújo, assessor especial à época das negociações do então ministro da pasta, general Eduardo Pazuello. O casal é sócio da DMGA Consulting, empresa com sede no Rio de Janeiro.

Leia mais

Bolsonaro divulgou dados do TCU adulterados sobre mortes de covid

Hardman era o principal consultor para assuntos jurídicos do general na Saúde, inclusive nas bilionárias negociações de vacinas.

Advogado criminalista, o ex-assessor de Pazuello e seu sócio representaram Danielle em uma ação na Justiça relacionada a plano de saúde. Hardman também atuou na defesa de chefes da milícia em ações judiciais.

Nas negociações pelo seguro da vacina, Danielle e Alvaro usaram o email funcional da própria empresa para representar o governo nas tratativas.

No site da DMGA, constava até sexta-feira (20) o contato de um “Zoser” para quem quisesse obter mais informações sobre o serviço da empresa. Este email, porém, foi excluído da página após questionamentos da reportagem.

A CPI da Covid tentou quebrar os sigilos de comunicações e bancários de Hardman, o que foi barrado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), depois de o advogado alegar que não havia fundamentos para decretar a medida.

Dessa maneira, em 15 de julho, o TCU cobrou justificativas do Ministério da Saúde sobre a seleção dos advogados de fora do governo.

Além de apontar inconsistências na busca por propostas e a falta de argumentos sólidos para estimar os valores mencionados na apólice.

Conforme documentos obtidos pela Folha, a pasta calculou de forma genérica o valor da cobertura a partir de “condenações do Judiciário brasileiro para casos análogos”, do “desconhecimento dos resultados” sobre uso destas vacinas e da possibilidade de litígio nos Estados Unidos.

A proposta ainda foi aceita sem tradução para o português, o que também virou alvo de questionamentos do TCU e de pareceres internos da Saúde.

Apenas em agosto, após provocação do tribunal de contas, a atual gestão de Marcelo Queiroga pediu a tradução dos papéis e abriu nova pesquisa de preços de seguros.

Leia a reportagem completa na Folha de S. Paulo.

Foto: Reprodução