Universidade Federal desenvolve teste sorolĂ³gico 20 vezes mais barato
A reduĂ§Ă£o de custos se deve principalmente ao fato de que, apesar de ser do tipo Elisa (ensaio de imunoabsorĂ§Ă£o enzimĂ¡tica), o teste pode ser realizado com uma gota de sangue retirada da ponta do dedo

Publicado em: 06/09/2020 Ă s 07:37 | Atualizado em: 06/09/2020 Ă s 07:37
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveram um teste sorolĂ³gico para covid-19 20 vezes mais barato que os disponĂveis em farmĂ¡cias do Brasil.
A metodologia, chamada de S-UFRJ, Ă© resultado de uma parceria entre o Instituto de BiofĂsica e o Instituto Alberto Luiz Coimbra de PĂ³s-graduaĂ§Ă£o e Pesquisa de Engenharia (Coppe).
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O teste sorolĂ³gico da UFRJ consegue captar anticorpos IgG (de longa duraĂ§Ă£o) produzidos pelo corpo humano com precisĂ£o que chega a 100% apĂ³s 20 dias do inĂcio dos sintomas.
De acordo com os resultados, o mĂ©todo tambĂ©m Ă© capaz de identificar anticorpos dez dias apĂ³s os sintomas terem começado, mas a precisĂ£o cai para 90%.
Custos menores
A reduĂ§Ă£o de custos se deve principalmente ao fato de que, apesar de ser do tipo Elisa (ensaio de imunoabsorĂ§Ă£o enzimĂ¡tica), o teste pode ser realizado com uma gota de sangue retirada da ponta do dedo.
Uma das coordenadoras da pesquisa, a professora da Coppe Leda Castilho explica que esse modelo de coleta de amostras custa bem menos que extrair o sangue de uma veia do braço com uma seringa.
“Para tirar sangue da veia, vocĂª precisa ter uma estrutura laboratorial, operadores treinados da Ă¡rea da saĂºde e todo o material estĂ©ril, como a seringa e o tubo especial. Depois, tem que ter uma estrutura para separar o soro desse sangue”, disse. “Nossa metodologia tem a coleta a partir de um furinho na ponta do dedo, e a amostra Ă© embebida em um papel filtro, que, no limite, pode ser um filtro de cafĂ©”, acrescenta.
Insumos para os testes
O custo dos insumos necessĂ¡rios para o teste nĂ£o passa de R$ 2, quando considerada a saĂºde pĂºblica e organizações nĂ£o governamentais com isenções tributĂ¡rias.
Apesar de um pouco maior, o custo baixo tambĂ©m vale para estabelecimentos privados, que conseguirĂ£o fazer o teste gastando R$ 5, calcularam os pesquisadores.
O objetivo da pesquisa Ă© fazer com o que o teste sorolĂ³gico seja mais acessĂvel e tambĂ©m chegue a regiões com menor estrutura laboratorial, destacou a pesquisadora. Com a realizaĂ§Ă£o desse tipo de testes, Ă© possĂvel acompanhar a prevalĂªncia sorolĂ³gica de populações mais distantes das capitais e em paĂses de menor renda.
“O que a UFRJ oferece para a sociedade Ă© um teste que pode ser feito na populaĂ§Ă£o ribeirinha do Amazonas, no meio do Cerrado ou no interior do sertĂ£o nordestino. E um teste que, alĂ©m da alta confiabilidade e da simplicidade de coleta de amostra e processamento, tem um custo baixĂssimo, de pelo menos 20 vezes menos que testes rĂ¡pidos que tĂªm sido realizados em farmĂ¡cias e laboratĂ³rios do Brasil”.
A metodologia para a realizaĂ§Ă£o do teste foi publicada cientificamente para ser replicada por institutos de pesquisa, empresas e governos de todo o mundo.
Leda Castilho explica que a opĂ§Ă£o por nĂ£o patentear e cobrar pela tecnologia faz parte da proposta de tornar o teste mais acessĂvel.
“A gente acha que, num horizonte de pandemia, as plataformas devem ser abertas para qualquer um em qualquer lugar do mundo”, disse.
Segundo ela, todo o processo de licenciamento tambĂ©m atrasaria a aplicaĂ§Ă£o das descobertas no combate Ă pandemia.
“Isso tem sido feito em todas as Ă¡reas e em todo o mundo. NĂ£o somos sĂ³ nĂ³s que estamos fazendo isso”.
ProteĂna S
O desenvolvimento do teste sorolĂ³gico Ă© resultado de outro trabalho da UFRJ: a produĂ§Ă£o em laboratĂ³rio da proteĂna S, que forma os pequenos espinhos que o coronavĂrus utiliza para invadir as cĂ©lulas.
JĂ¡ em fevereiro, a universidade havia iniciado a produĂ§Ă£o da proteĂna, e, desde março, outras instituições e empresas brasileiras vĂªm se beneficiando dessa produĂ§Ă£o para outras descobertas.
A proteĂna S produzida na UFRJ foi utilizada, por exemplo, no desenvolvimento do teste rĂ¡pido do Instituto de Tecnologia em ImunobiolĂ³gicos (Bio-Manguinhos), informa Leda Castilho.
AlĂ©m da coleta de amostras da ponta do dedo, o baixo custo da produĂ§Ă£o dessa proteĂna na universidade Ă© outro fator que contribui para que o teste S-UFRJ seja mais barato.
Para tornar a testagem ainda mais acessĂvel os pesquisadores trabalham agora em simplificar o processamento da amostra, o que permitiria que os testes realizados em regiões distantes de laboratĂ³rios pudessem ser processados no prĂ³prio local da coleta.
Enquanto atua nesse prĂ³ximo passo, a universidade jĂ¡ começarĂ¡ a implementar o teste desenvolvido em sua testagens internas de trabalhadores.
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Foto: AcĂ¡cio Pinheiro/AgĂªncia BrasĂlia/Via AgĂªncia Brasil