Vítimas do massacre do Jacarezinho chegam a 29. ‘Tudo bandido’, diz Mourão

ONU, STF, OAB, Ministério Público e entidades sociais cobram investigação sobre o que chamam de chacina de moradores da favela do Rio

Vítimas

Aguinaldo Rodrigues

Publicado em: 08/05/2021 às 11:54 | Atualizado em: 08/05/2021 às 12:01

Por volta das 12h (de Brasília) deste sábado (8), subiu para 29 o número de mortos na operação no Jacarezinho. Para o vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), os moradores vítimas da polícia (28) são “tudo bandido”. Um policial foi morto na ação do dia 6 na comunidade do Rio de Janeiro. A responsável foi da Polícia Civil.

Os números foram informados ao G1 pela própria polícia no final da manhã deste sábado.

Para o chefe da Polícia Civil do Rio, Allan Turnowski, que elogiou a ação, todos do Jacarezinho que foram mortos eram traficantes.

“A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes”, afirmou.

Portanto, sua afirmação vai na direção do que disse na sexta o vice-presidente do Brasil. Segundo o general, as vítimas eram todas bandidos.

“Tudo bandido. Entra um policial, em uma operação normal, leva um tiro na cabeça de cima de uma laje”.

Acrescentou Mourão que isso é um problema sério do Rio “que vamos ter que resolver um dia ou outro”.

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Ação sob suspeita

No entanto, o episódio do massacre do Jacarezinho não deve ficar só na interpretação de Mourão e da Polícia Civil do Rio.

Além do Ministério Público do Rio, que já informou que investigará denúncias de abusos dos policiais, outros órgãos já se movimentam.

Pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin pediu investigação à Procuradoria-Geral da República.

De acordo com Fachin, há fatos “graves” e indícios que poderiam configurar “execução arbitrária”.

Organismos internacionais também sinalizam que vão cobrar do Brasil apuração desse episódio.

Por exemplo, a Organização das Nações Unidas (ONU) já declarou estar “profundamente perturbada” com o massacre. 

Por meio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (Acnudh), tratou o caso do Jacarezinho como chacina.

E cobrou a abertura de uma “investigação independente, completa e imparcial, de acordo com padrões internacionais”.

Cobrança internacional

O porta-voz dos Direitos Humanos da ONU, Ruppert Colville, declarou em Genebra, na Suíça, que o Ministério Público deve seguir o protocolo internacional sobre a investigação das mortes.

E que as autoridades devem garantir a segurança e a proteção das testemunhas, inclusive contra intimidações e retaliações.

Segundo o porta-voz, o resultado dessa operação reforça uma tendência antiga e desproporcional do uso da força policial nos bairros pobres e marginalizados. 

Acrescentou que os relatos são preocupantes e lamentou que a cena do crime não tenha sido preservada.

A Defensoria Pública do Rio encaminhou ao STF um pedido de investigação. Quer saber se a operação descumpriu decisão que restringe operações policiais em favelas durante a pandemia.

Após a repercussão da operação, Fachin já determinou que sua decisão seja apreciada no plenário do STF. Deve ser a partir do dia 21 deste mês.

A Defensoria vai solicitar, ainda, a instauração de um observatório da sociedade civil de monitoramento das medidas cautelares determinadas. 

Além disso, a OAB-RJ cobra uma investigação rigorosa da operação.

Coletivos, organizações não governamentais e a associação de moradores do Jacarezinho publicaram nota de repúdio à chacina do Jacarezinho.

Com informações da Agência Brasil. Leia mais no G1.

Foto: Reprodução/site Brasil Dois Pontos