Acho que entre nós foi amor à primeira vista, mas um amor, disfarçado, de entrega.
Não queria que as linhas de nossas vidas tivessem se cruzado assim, de forma tão breve e tão casual.
Quando lhe vi primeira vez, senti tanta vontade de me abraçar com você, de lhe proteger, de lhe cuidar. Mas eu não podia.
Você ainda vivia com a brutalidade daquele que certamente tentava descarregar em você o abandono que lhe condevana a um quarto fétido de uma casa prestes a cair na cabeça dele.
Me apertava o coração te ver buscando, a esmo, sua sobrevivência.
E me apertou ainda mais quando descobri que você era obrigada a fazer uma dieta vegetariana, alimentando-se apenas da acidez das mangas que caíam naquele quintal.
Lembra? Você era uma menina tão magrinha, de um olhar tão distante.
Mas, na primeira oportunidade que soube que aquele seu parceiro havia se mudado, sem lhe levar, não contei conversa.
Com alguns cuidados médicos e estéticos, lá estava você: lindona, carinhosa, amável, ciumenta. Negona, assim como todos lhe conheciam por ali.
Fiz tudo o que pude para lhe fazer feliz.
Em troca, ganhei seu carinho, sua atenção e a segurança que você deu para a nossa família.
Obrigado por sua proteção. Sentiremos muito sua partida.
Mas, poxa, foi tão rápido!
Ainda assim, obrigado pelo Rassan. Vou cuidar muito bem dele. O Ricardo também vai cuidar bem da Dolly. Agora vá.
Ah! Também tenho que lhe agradecer por ter esperado eu chegar em casa para você se despedir da gente. Seus últimos suspiros e o nosso desespero para tentar lhe reanimar ficarão guardados juntos com as lembramos dos momentos que você esteve com a gente.
Adeus, Negra linda! Vá em paz.
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