CGU e PF investigam esquema de venda de emendas parlamentares

Auditoria examinou um edital para a venda de quatro tipos de mĂ¡quinas destinadas aos 26 estados. Dos 104 lotes, foram encontrados indĂ­cios de sobrepreço em 19

Deputados federais e senadores tĂªm limite R$ 15,4 milhões para suas emendas

Publicado em: 07/10/2021 Ă s 11:29 | Atualizado em: 07/10/2021 Ă s 16:19

O ministro Wagner RosĂ¡rio, da CGU (Controladoria-Geral da UniĂ£o), afirmou que o Ă³rgĂ£o de controle e a PolĂ­cia Federal (PF) investigam um possĂ­vel esquema de venda de emendas parlamentares.

A declaraĂ§Ă£o foi dada em audiĂªncia pĂºblica na ComissĂ£o de FiscalizaĂ§Ă£o Financeira e Controle da CĂ¢mara dos Deputados. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, existe a suspeita de possĂ­vel esquema em que deputados e senadores destinariam dinheiro pĂºblico do Orçamento a prefeituras em troca de um porcentual.

“Sobre a venda de emendas estamos investigando vĂ¡rios casos. JĂ¡ fizemos esse trabalho nos convĂªnios em geral, porque nĂ£o Ă© sĂ³ trator, temos diversas outras coisas acontecendo no Brasil, nos ministĂ©rios, em diversos outros Ă³rgĂ£os, e estamos com um trabalho sobre isso em parceria com a PolĂ­cia Federal, e vamos ficar sabendo no dia da deflagraĂ§Ă£o das operações e tambĂ©m no desencadeamento dos trabalhos”, disse.

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, investigadores suspeitam que parlamentares cobram atĂ© 20% sobre o valor da emenda em troca da indicaĂ§Ă£o de recursos para uma determinada prefeitura. O valor seria pago por empreiteiras ou pelos prĂ³prios agentes pĂºblicos.

A audiĂªncia com Wagner RosĂ¡rio foi realizada em meio a suspeitas sobre a destinaĂ§Ă£o de recursos do Orçamento para as emendas de relator. O ministro mostrou dados de uma auditoria que investiga a utilizaĂ§Ă£o desses recursos e informou que um levantamento em convĂªnios com municĂ­pios mostrou que, em 61% da amostra pesquisada, havia risco alto ou extremo de sobrepreço.

A audiĂªncia tambĂ©m foi convocada para que o ministro explicasse um relatĂ³rio da CGU que apontou indĂ­cios de sobrepreço, calculado em R$ 130 milhões, na compra de tratores pelo MinistĂ©rio do Desenvolvimento Regional. A licitaĂ§Ă£o envolvia 6.240 mĂ¡quinas, ao preço de R$ 2,89 bilhões. Boa parte desses equipamentos seriam pagos com recursos de emendas de relator.

De acordo com Wagner RosĂ¡rio, a auditoria examinou um edital para a venda de quatro tipos de mĂ¡quinas destinadas aos 26 estados. Dos 104 lotes, foram encontrados indĂ­cios de sobrepreço em 19. O ministĂ©rio renegociou os preços de 14 lotes e, nos outros cinco, as empresas nĂ£o aceitaram os novos valores e os contratos foram cancelados.

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“Dos 19 itens que tinham sobrepreço, o ministĂ©rio renegociou 14, e esses reduziram a estimativa, caso tudo fosse comprado, de R$ 130 milhões para R$ 113 milhões. Os outros cinco itens, as empresas nĂ£o aceitaram fazer uma renegociaĂ§Ă£o desses valores. Afirmaram nĂ£o ter condições de cumprir esses valores e esses itens foram cancelados”, disse.

Sobre os trĂªs convĂªnios especĂ­ficos, voltados para a compra desse tipo de maquinĂ¡rio para os municĂ­pios de Pimenta Bueno (RO) e Anglo e Godoy Moreira, ambos no ParanĂ¡, Wagner RosĂ¡rio disse que a CGU identificou inicialmente problemas apenas no convĂªnio de Godoy Moreira, mas que depois foi verificado que na licitaĂ§Ă£o realizada em Anglo o valor de referĂªncia estava dentro dos parĂ¢metros definidos pela CGU, mas que o valor final da licitaĂ§Ă£o ficou acima. “A CGU estĂ¡ verificando as medidas que vĂ£o ser adotadas”, disse.

PosiĂ§Ă£o sobre emendas do relator

Na audiĂªncia, Wagner RosĂ¡rio ainda disse ser contrĂ¡rio Ă s emendas de relator no Orçamento da UniĂ£o.

“Se o senhor me perguntar minha opiniĂ£o sobre o RP9 [emendas de relator], eu, Wagner, sou contra! Acho que as polĂ­ticas pĂºblicas tĂªm que ser tocadas pelo Poder Executivo federal, com estudos tĂ©cnicos. O problema Ă© que temos uma aprovaĂ§Ă£o da lei que criou essa emenda. A Ăºnica recomendaĂ§Ă£o que o Tribunal de Contas da UniĂ£o fez foi de dar transparĂªncia”, disse Wagner RosĂ¡rio durante audiĂªncia pĂºblica na ComissĂ£o de FiscalizaĂ§Ă£o Financeira e Controle da CĂ¢mara dos Deputados.

Wagner RosĂ¡rio disse considerar que as emendas de relator sĂ£o menos transparentes do que as individuais, de deputados e senadores. Segundo ele, nĂ£o Ă© possĂ­vel a CGU identificar nesse tipo de emenda quem estaria sendo beneficiado, uma vez que a destinaĂ§Ă£o dos recursos Ă© definida em acertos entre parlamentares e o relator do Orçamento.

“Hoje nĂ£o temos transparĂªncia. Hoje, para a CGU, toda e qualquer indicaĂ§Ă£o de RP9 Ă© do relator. Eu posso dar transparĂªncia completa. Coloco o nome do relator em tudo o que tiver RP9, mas eu nĂ£o sei com quem que o relator conversou e quem ele estĂ¡ atendendo com aquela emenda”, disse o ministro.

“Em relaĂ§Ă£o Ă  execuĂ§Ă£o da despesa, ela estĂ¡ toda transparente, temos os dados publicados, mas estamos vendo como aprimorar, inclusive fazer uma consulta especĂ­fica de RP9 no Portal da TransparĂªncia”, acrescentou.

O ministro Wagner RosĂ¡rio ponderou ainda que o debate sobre a extinĂ§Ă£o desse tipo de emenda tem que ser feito pelo Parlamento. Na avaliaĂ§Ă£o do ministro-chefe da CGU, a medida tira força do planejamento elaborado pelo governo.

“É um ponto que Ă© importante deixar aqui. Quando alguĂ©m Ă© priorizado com essas emendas e ele destina, nĂ£o estamos dizendo que ele Ă© um ato de corrupĂ§Ă£o em si, mas o que eu estou falando Ă© que esse ato pode ser que nĂ£o represente as principais necessidades que o paĂ­s tem dentro das prioridades que sĂ£o traçadas em plano de governo”, afirmou.

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